quinta-feira, 8 de fevereiro de 2007

UM SIMPLES CREME DE BARBA

Artigo do Jornal de notícias de hoje que coloca em destaque um aspecto muito negativo do povo português, de nós! É importante meditar no constante do último parágrafo

Um simples creme de barba
Almeida e Sousa, Engenheiro

Há dias mandei comprar um tubo de creme de barba. Como sempre, só pedi que fosse português. Creme de barba, e era uma grande superfície, mandaram-me dizer que, português, não tinham. Não pedi nenhum "Concord", nem nenhum foguetão "Apollo". Pedi um simples creme de barba. Pois nem isso. Somos um povo de 10 milhões de habitantes, seremos quatro milhões de homens dos quais hoje uma parte importante fará a barba todos os dias. Algum mercado interno parece que temos, portanto. Aliás, dantes, os cremes de barba que comprava eram feitos em Portugal, embora pudessem ter alguma inclusão de qualquer produto estrangeiro. Agora, não. Têm de vir de fora. Era um triste indício, mas não era tudo. É que a caixa em que vinha embalado tinha, como agora é habitual, uma explicação num horror de línguas, 13 ao todo. Em Português também por certo. É evidente que não falarei todas essas 13 línguas, mas falo algumas, e, comparando, não era difícil compreender que, em todas elas, os dizeres eram precisamente os mesmos, excepto em Português. Os nossos dizeres eram mais completos. Acrescentava-se, em Português e só em Português, que aquele creme de barba tinha sido produzido em Itália.

Uma distinção que nos faziam? Não. Quem quer que tenha comprado ou vendido sabe como se faz a propaganda. Diz-se o que mais pode enlear o comprador. E a conclusão que se pode tirar é que, para todos os outros povos, para o resto da Europa, afinal, o ser feito em Itália, noutro país que não o próprio, não lhe acrescentaria mais valia nenhuma. Se calhar, antes bem pelo contrário. Só aos portugueses é que se tinha de dizer que era feito em Itália, não em Portugal, que tinha essa mais-valia que, se ali tinha sido escrita, é porque se sabia que teria influência na escolha do comprador. Um simples creme de barba, não um sofisticado produto da mais alta tecnologia.

Fiquei triste. Enquanto assim for, enquanto para se vender um simples creme de barba se tenha de dizer aos portugueses, e a mais nenhum outro povo da Europa, que foi feito em Itália, ah! poderá a Associação Empresarial de Portugal, poderemos todos nós gritar bem alto que "compremos o que é português" que os inconscientes que somos continuaremos a comprar o que for feito seja por quem for, que não pelos portugueses a quem temos o Dever de dar trabalho. Enquanto assim for, meus senhores, não vamos longe, vamos todos para o desemprego.

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