sábado, 24 de março de 2007

OS MILITARES E A ESPECIFICIDADE DAS SUAS MISSÕES

Explosões em paiol de Maputo

Maputo, capital de Moçambique, entrou em pânico na tarde de 22 devido a sucessivas explosões num paiol militar, numa das saídas da cidade, que em tempos era considerado uma instalação modelar em todo os pormenores da segurança. Fonte do Ministério da Defesa moçambicano disse que o paiol guardava material bélico pesado, designadamente obuses e morteiros, tendo parte desse material foi projectado para uma vasta área residencial em redor do quartel, sem que chegasse a deflagrar, o que exigiu de imediato intensivo trabalho de busca e recolha.

Segundo observadores era um ruído ensurdecedor e uma nuvem que fazia lembrar Hiroshima ou Nagasaki". Malhazine, zona densamente habitada em redor do quartel onde se deram as explosões, passou, de um momento para outro, de bairro de lata a bairro fantasma. Esta descrição veio recordar-me da explosão ocorrida, há cerca de 54 anos, em Lisboa, no paiol da Ameixoeira, que observei a partir da Amadora, durante muitos minutos, que pareceram horas. Um espectáculo preocupante, terrível!

Houve alusão a "altas temperaturas" como explicação das explosões, mas tal causa foi desde desacreditada, tendo Afonso Dhlakama , o líder da Renamo, que também esteve no local e visitou as vítimas no hospital, dito "Como seria o acondicionamento de munições em países com temperaturas muito mais altas que Moçambique?" Em sua opinião, na origem das explosões está a falta de ordem nos quartéis moçambicanos, "onde os militares se misturam com civis, num ambiente sem regras nem regulamentos".

Perante a extensa área de espalho de munições e destroços, houve que iniciar, sem demora, a limpeza tendo sido removidas por brigadas militares centenas de ogivas e destroços, e os especialistas estimam que vão ser precisos vários dias para completar a limpeza. Houve projécteis que foram atingir viaturas que circulavam numa estrada a mais de dez quilómetros.

Os números de vítimas crescem à medida que o tempo passa. Com os desaparecidos ainda por quantificar, 83 mortos e 350 feridos (42 necessitando de "cuidados muito especiais") compunham o último balanço fornecido pelo Governo moçambicano. Um balanço provisório e, presume-se, contido, a avaliar pelos relatos trágicos que, durante o dia 23, foram chegando de Maputo.

Do lado do Governo, foi anunciada a criação de uma comissão de inquérito independente para estudar as causas do acidente e propor recomendações e medidas futuras para situações do género.

Mesmo que não tenha havido intenção, este caso mostra que os militares devem ser devidamente motivados a serem cuidadosos, rigorosos e inflexíveis com os seus materiais, e todos os aspectos da segurança. São coisas de tal maneira sensíveis e perigosas que não toleram desleixos. É mais um aspecto que deve levar os governantes a não os tratar como vulgares funcionários públicos. Têm especificidades que devem ser tidas em consideração e que devem ser devidamente compensadas, pois não estamos em época histórica que tolere a escravatura. A cada um segundo o seu esforço, sacrifício e restrições de direitos, liberdades e garantias.

A vida dos militares não é cor-de-rosa, é feita de espinhos, dores e desgostos, que só são superados quando existe um acrisolado Amor à Pátria e inabalável espírito de missão, de servir, de doação total de si próprio, coisas que exigem forte motivação e apoios pessoais e familiares mas que escapam à compreensão dos políticos e da maior parte dos cidadãos vulgares, que teimam em os considerar, nos aspectos remuneratórios, como simples funcionários públicos.

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro amigo,

Como sempre, et pour cause, gostei da sua análise desta situação trágica, que, aliás, desconhecia. Sem dúvida que se deve exigir condições de vida e de trabalho aos militares condignas com a sua importantíssima função. Cuidado, no entanto, com excessivos paternalismos, a fazer lembrar ditaduras de outros lugares...
A situação que descreve é indicador do estado em que se encontram países em vias de desenvolvimento, como Moçambique. A ajuda externa, insuficiente e, contudo, fundamental, não chega para suprir as necessidades destes povos. Atenção: não ao neocolonialismo! Sim, à solidariedade e cooperação, devida pelos antigos colonizadores, que deixaram esses países com carências e de rastos.

Um abraço amigo

A. João Soares disse...

Obrigado pela sua visita e pelo comentário.
Sem dúvida, que nesta assunto como em tudo na vida deve haver muito bom senso e ponderação para agir na justa medida, prevenindo problemas futuros.
Os militares são extremamente perigosos, não tanto pelas revoluções que podem desencadear, como o 25 de Abril, de que os actuais políticos temem a repetição, mas principalmente pela estagnação, dado o seu apego a regras rígidas e imutáveis, conservadoras, como agora se está a verificar nos atritos com os tribunais acerca das medidas «disciplinares».
A ajuda aos países recentes deve ser dada com o devido respeito pela sua soberania, contribuindo para a consolidação da sua maioridade livre e independente.
Um abraço
A. João Soares