domingo, 6 de maio de 2007

Energia e Combustíveis para automóveis

Há comentários a que, pelo seu valor, merecem ter mais visibilidade. Por isso aqui se transcreve o comentário que Carlos Portugal, colocou no post Um passo para a inovação , Caravana ecológica percorre o país , no blog Democracia em Portugal?. Este post também foi colocado em Do Mirante e em Do Miradouro

Concordo plenamente com as suas preocupações, mas há alguns pequenos reparos a fazer.

Em primeiro lugar, o petróleo não está a esgotar-se, longe disso. O que acontece é que as jazidas onde é mais BARATO explorá-lo pelas petrolíferas já estão a escassear - essas sim estão a diminuir. Daí as guerras absurdas para as grandes petrolíferas (Exxon, Gulf, Texaco, Mobil, etc.) se apropriarem das terras onde elas se encontram (a exploração on-shore é muitíssimo mais barata do que a off-shore).

Em segundo lugar, mesmo que as jazidas petrolíferas se estivessem a esgotar, há um processo, datado, segundo creio, de 1936, o processo Fischer-Tropsch, que permite o fabrico industrial de gasolina, gasóleo e óleos lubrificantes a partir do carvão e do lixo orgânico doméstico e industrial. Tal processo foi posto em prática em larga escala pela Alemanha nazi durante a 2ª Guerra Mundial, devido às carências em matérias-primas que este país atravessava. Contudo, este processo - para além de reciclar o lixo - é altamente lesivo para os interesses das petrolíferas (como é óbvio), para além de fazer perigar os interesses geo-estratégicos do lobby militar-industrial do Eisenhower. O único país que recentemente o utilizou foi a África do Sul, durante o regime do Apartheid.

Em terceiro lugar, embora concorde com o aproveitamento dos óleos alimentares (de restaurantes, etc.) para combustível, não posso, de forma alguma, pactuar com o bio-diesel, pela simples razão de a sua utilização em grande escala ir inutilizar milhões de hectares de terra arável para produção de colza - para fabricar o dito bio-diesel. Numa época em que há fome no mundo e que os terrenos férteis e com água começam a ser insuficientes, uma prática destas é, simplesmente, criminosa.

Por fim, quanto aos automóveis híbridos, a sua complexidade mecânica e electrónica leva-os a terem uma fiabilidade muito baixa, e o seu peso (por causa das baterias) implica uma perda de rendimento que os coloca ao nível de carros de baixa cilindrada com consumos porventura ainda menores. Com a agravante de os motores a gasolina desses híbridos terem uma vida curta, pois são solicitados A FRIO sempre que é preciso uma maior aceleração. Isso irá fazer com que eles se desgastem anormalmente e que os óleos lubrificantes utilizados passem para as câmaras de combustão e daí para a atmosfera, poluindo-a (os catalizadores de nada servem, neste caso).

Enfim, creio que a solução estará no desenvolvimento de novas baterias para carros totalmente eléctricos, desde que a produção da energia para carregamento dessas baterias seja de uma fonte limpa.

E de motores a gasolina e a diesel mais eficientes, que permitam consumos mais baixos e menores graus de poluição (a nível de hidrocarbonetos e de CO, pois quanto ao CO2 este NÃO É poluente, digam os promotores do «efeito de estufa» o que disserem. Sobre isto referir-me-ei noutra altura).

Por último, resta referir que a poluição automóvel ronda os 6 a 8% da poluição total devida a derivados do petróleo. A grande fatia cabe à indústria e à aviação comercial e militar (um Boeing 747 queima 60.000 litros de querosene por hora, e os Airbus A340 não são melhores).

Mas, tal como o meu Amigo diz, se voltássemos a manufacturar artesanalmente muitos dos artigos e alimentos que utilizamos e consumimos, a fatia da poluição industrial diminuiria, a nossa saúde agradeceria e a nossa carteira também, retirando poder aos ditos lobbies.

NOTA: Esta lição de Carlos Portugal é altamente qualificada assentando num sólido conhecimento do tema. Textos deste valor contribuem para que o nosso saber se desenvolva e se iniciem debates interessantes.
Mas, independentemente de a experiência que originou estas palavras poder não dar resultados práticos, ela demonstra vontade de investigar e de se preocupar com a aplicação prática dos conhecimentos teóricos. A ausência de ligação da teoria à aplicação prática tem sido uma crítica ao ensino português. Oxalá esta experiência estimule outras semelhantes noutros sectores, para dar uma feição técnica e prática aos novos licenciados.
Espero que apareçam mais comentários a esmiuçar outros pormenores, como por exemplo, a energia da fusão nuclear ou a combustão de hidrogénio.

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