segunda-feira, 14 de maio de 2007

Nesta idade...

Nesta idade, não há surpresas. Tudo é previsível e possível ...

O «automóvel» era novo, teve um acidente e durante horas, parecia irrecuperável. Havia mais quem tivesse certezas do que dúvidas optimistas. Mas era novo e, apesar da reparação demorada e de complicações subsequentes a impor retoques, a recuperação foi conseguida obtendo boa percentagem de capacidade de funcionamento, embora com uma amolgadela irrecuperável que se mantém.

Era novo, mas agora, «nesta idade» tudo é diferente. A máquina já não atinge a mesma velocidade de ponta, as válvulas não vedam bem, os cilindros não fazem a combustão com o mesmo rendimento de antanho e deles não sai a mesma força. Desgastes seguidos de folgas, com ruídos, oxidações ou artroses ou escleroses passaram a ser palavras muito frequentes nos diagnósticos dos mecânicos. «Nesta idade» nada surpreende, tudo sendo natural! Mas, se bem que o fim seja inevitável, há, curiosamente, sinais de alívio. «Nesta idade» certas avarias evolutivas progridem mais lentamente do que antes e isso também deve ser levado em conta.

Há meses um actor brasileiro, de idade avançada, dizia em entrevista na TV que, com carinho, os colegas e amigos o tratam por velho, e confessou que gosta de ser velho e de vir a ser ainda mais velho, que é sinal de continuar vivo.

O ortopedista, depois de observar as radiografias à coluna, dizia ao paciente que não havia nada grave, tudo normal para «esta idade», e que este é o preço a pagar por não ter morrido antes. Pouco simpático, mas realista. O Médico que efectuou o ecodopler às carótidas, após o trabalho, respondeu que não há nada de grave, apenas uma pequenas alterações próprias «desta idade». Resposta muito semelhante à do médico que fez o ecocardiogrma, «nesta idade» não era de esperar muito melhor. O neurologista, depois de ver cuidadosamente os exames, não teve opinião diferente e recomendou levar uma vida saudável, com alimentação sem gorduras, fazendo exercício físico controlando regularmente o colesterol e a tensão arterial e acrescentou que daria estes conselhos a qualquer pessoa «desta idade».

Este estribilho já estava a ser monótono e cansativo, quando o urologista na consulta anual, depois de observar as análises, o urofluxograma e a ecografia à próstata e de comparar com os apontamentos dos anos anteriores, notando que não tinha havido alterações, disse para voltar daí a um ano, com as análises e que não era necessário nem o urofluxograma nem a ecografia, porque «nesta idade» as doenças malignas evoluem lentamente e não exigem tanta preocupação. Só não foi suficientemente claro para dizer: «nesta idade» já não morrerá de cancro porque já não lhe dá tempo a que ele se desenvolva; morrerá antes devido a outra coisa qualquer.

Mas, olhando a mecânica da máquina com um pouco mais de ironia e humor, concluímos que, graças à Natureza, «nesta idade» nem tudo é mau, ameaçador e arrasador, pois há vantagens que vêm aliar-se ao grande acervo de experiência acumulada durante décadas. E o automóvel, embora exigindo mais cuidados antes de iniciar a viagem e de consumir mais óleo e combustível, continua a funcionar com alguma garantia de ir e regressar!!!

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