quinta-feira, 3 de maio de 2007

Novas oportunidades

Da publicidade que tem sido feita ao programa Novas Oportunidades, ressalta como objectivo a obtenção de diplomas de cursos superiores de maneira habilidosa, sem bases sólidas, mesmo que isso não corresponda a aquisição de conhecimentos, competência e eficiência de desempenho. Trata-se de um incentivo de caça ao canudo. Na minha santa ingenuidade, pensava que as Novas Oportunidades eram pistas, através de uma rápida formação profissional, com vista a novas actividades produtivas para realização pessoal e benefício da economia nacional. Coisas práticas, como por exemplo, conselhos para a criação de pequenas empresas explorando nichos de mercado, principalmente nos sectores das modernas tecnologias tão do gosto dos jovens.

Conheço de perto um caso curioso passado nos EUA, que mostram a facilidade com que as pessoas encaram as novas oportunidades sempre que, por qualquer motivo, interrompem a actividade que vinham exercendo e querem continuar a auferir de rendimentos compatíveis com uma vida desafogada, sem carências. Trata-se de um professor universitário doutorado em Física Nuclear que trabalhava em regime de contrato bianual, já tendo passado por duas ou três universidades. Na última, dado o seu desempenho prolongaram a prestação de serviço por mais um ano, ao fim do qual teria de concorrer a outra. Entretanto tinha casado com uma médica que o tinha acompanhado nas duas últimas cidades universitárias, mas que agora estava em óptimas condições de trabalho num hospital local, e tinha dois filhos a estudar. Analisando a situação familiar concluíram que dadas as condições vigentes, um dos dois tinha que mudar de profissão e concluíram isso ser mais fácil para ele. De repente, ele disse ao pai: que pensavas se o teu filho passasse a ter uma padaria e a produzir pão tipo italiano que cá na terra tem muita procura? Completa abertura a qualquer solução digna, sem preconceitos. Desde a papelaria, ou o quiosque de jornais, ou uma empresa de prestação de serviços ligeiros tudo devia se tomado como solução possível.

Mas, em qualquer estudo de situação seriamente conduzido, a decisão cairá sobre a melhor das hipóteses formuladas, depois de uma comparação cuidadosa das vantagens e inconvenientes de cada uma.

Com as habilitações académicas que tinha, certamente, apareceria melhor solução. Acabou por entrar para uma grande empresa de seguros de saúde, cuja formação profissional incluiu uma licenciatura específica e um acesso rápido através de várias funções que serviram de estágio e preparação para o alto cargo que hoje desempenha.

Na vida nem tudo é rectilíneo, seguindo o caminho mais rápido e directo. Por vezes é mais racional e lógico imitar a água que, da nascente à foz do rio, vai sempre pela linha de maior declive, contornando elevações e outros obstáculos, não gastando energias desnecessariamente. Mas, mesmo a água, não age passivamente, sem esforço, nem com resignação absoluta. Se depara com um obstáculo intransponível, pára, acumula energia, eleva o nível e, quando a força é suficiente, derruba o obstáculo, se não consegue ultrapassar por cima ou pelos lados.

Estas reflexões vêm na sequência dos posts Ultrapassar as dificuldades e vencer, Um deficiente vencedor, Celebremos o 1º de Maio, Quem atrapalha a sua vida? que evidenciam a quota parte que nos cabe na preparação do êxito pessoal ou profissional da nossa vida. Salvo uma ou outra contingência que não podemos controlar, o futuro trará o fruto da semente que agora semearmos, nas pequenas decisões quotidianas. E estas devem ser coerentes com os nossos objectivos e não movidas por vaidades, ostentações e estímulos passageiros e voláteis que acabam por trazer sabor amargo.

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