domingo, 5 de agosto de 2007

A condição humana, nacional

A condição humana

Do artigo de opinião de Nuno Brederode Santos no DN de hoje extraio esta pequena fracção.
«Faço a 5 de Outubro, na direcção da Fontes Pereira de Melo. Uma mulher andrajosa traz ao colo uma criança e aborda os carros que param à minha frente. Lembro-me de, há anos, sob a influência de notícias da altura, ter recusado uma esmola destas, sujeitando-me à observação sarcástica da minha parceira na viagem: "Fizeste muito bem. Trata-se obviamente de uma milionária excêntrica." Olho, de passagem, a agência do BCP. Como é que nós, os leigos, poderemos alguma vez entender que o maior banco privado português seja tão dramaticamente vulnerável ao que mais parece uma querela de águas entre vizinhos pobres? Não foi a democracia cristã que mais nos zurziu a cabeça com a "responsabilidade social das empresas"?»

A menina revolucionária do PREC, ao chamar «milionária excêntrica» a uma mendiga, seguia as extravagâncias sócio-políticas da época, uma época que já passou, que esteja em descanso. Mas, infelizmente, a ideia parece não ter morrido no íntimo dos actuais governantes. Recusam-se a tomar conhecimento das realidades nacionais, do crescente número de mendigos e sem-abrigo e de muitos idosos, que só não mendigam por vergonha. É a pobreza envergonhada, aquela que tem dificuldade em pagar a água, a electricidade e o pão.

A vizinhança da mendiga com os bancos que, segundo as notícias, têm aumentado os lucros de forma escandalosa, devido a cobrarem exorbitâncias aos clientes das mais variadas formas, em cartel para que não valha a pena mudar para um concorrente, demonstra bem a incapacidade dos governantes defenderem eficazmente os interesses dos cidadãos principalmente os mais carentes. Bancos, Seguros, PT, EDP, Galp, e outros serviços essenciais para os cidadãos, gabam-se de lucros avantajados e de pagarem ordenados milionários aos seus quadros superiores, à custa do cliente que, na maior parte dos casos, não tem alternativas para poder escolher. Estamos num Estado injusto e totalitário em que o poder económico tem liberdade total para empobrecer ainda mais os mais pobres, obrigando-os a aumentar o aperto do cinto, sem que o Governo moralize as relações entre os fornecedores de serviços e os clientes.

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