terça-feira, 18 de março de 2008

Altos e baixos no rectângulo

Em dois posts recentes, à semelhança do que já tinha feito em relação a outros factos muito positivos com provável incidência na modernidade de Portugal, enfatizei os casos de Maria de Medeiros e de Filipe Valeriano. O primeiro caso realça a cultura portuguesa no estrangeiro e o segundo constitui um exemplo de como se prepara o Portugal do futuro, através do raciocínio lógico que a Matemática ensina a desenvolver.

Gostaria de incluir aqui muitos mais casos deste género, mas as notícias orientam as atenções para uma «classe» de pessoas de onde apenas saem exemplos do que não deve ser feito. Estou convicto de que poderá haver políticos sérios, pois há excepções em todas as regras, mas o conceito geral não é o mais laudatório. Será por isso que passam a vida a auto-elogiarem-se. Já que ninguém o faz… fazem eles o próprio elogio!

Ontem, o JN trazia a notícia «Fundos europeus em causa própria» de que deixo aqui este link para quem desejar conhecê-la na íntegra, pois apenas vou fazer-lhe algumas pontuadas.

Refere-se a um dirigente do PSD que, na condição de presidente da Associação para o Desenvolvimento Turístico da Região Centro (ADTREC), a 4 de Maio de 2004, interferiu na adjudicação de um contrato de mais de 700 mil euros a uma empresa a que viria a ficar ligado, cerca de um ano depois. A empresa adjudicatária era presidida por um amigo, sócio e antigo deputado do PS. Tudo entre compadres da mesma «classe»!

À data da adjudicação, o referido líder acumulava os cargos de presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Centro e de gestor do Programa Operacional do Centro, sendo nesta dupla condição que viabilizou o financiamento da mesma empresa e do seu contrato com 528 mil euros do Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER).

Ainda segundo a notícia, foi eleito deputado a 20 de Fevereiro de 2005, e teve breves passagens pelos Governos de Durão Barroso e Santana Lopes como secretário de Estado da Administração Local e da Administração Interna.

Perante casos como este e outros que a Comunicação Social, ocasionalmente e de forma discreta, traz ao conhecimento dos leitores, somos levados a ter sempre presente as palavras do bastonário da Ordem dos Advogados quando se refere à confusão que os políticos fazem entre os interesses do Estado e os seus interesses privados. Já João Cravinho referiu a necessidade de combater o enriquecimento ilícito e o tráfico de influências, tudo isto inserido no conceito mais conhecido por corrupção, fenómeno de que o Estado é o maior prejudicado, mas que os políticos evitam combater de forma eficaz. Pois se são eles os principais beneficiados! Mas, segundo estes, tudo está dentro da legalidade, isto é, a coberto das leis que eles próprios fabricam com o cuidado das vírgulas e outras habilidades que lhes dão a protecção de uma blindagem eficaz.

Porém, neste período de meditação pascal, salta um desabafo de inocente pureza: Como seria maravilhosos se os portugueses tivessem razões para ver, nos seus eleitos, bons exemplos a seguir pela população em geral, comportamentos impolutos de isenção e dedicação ao bem estar do povo, às grandes causas nacionais!

Mas os grandes problemas nacionais são, para essas pessoa «geniais», as questões de suma importância do uso dos «piercings». Já não se preocupam com a aplicação geral ou parcial da lei do tabaco ou da ineficácia da lei inviável de controlo de armas ou da crescente criminalidade violenta. Isso, para eles, são coisas menores, insignificantes ao lado do tema de importância nacional dos «piercings».

São estes os valorosos portugueses que «se vão da lei da morte libertando»!

5 comentários:

José Lopes disse...

Felizmente ainda há quem sobressaia por algum mérito.
O compadrio e as diatribes de quem passa pelo poder, essas cheiram naturalmente mal, mas a impunidade é a regra.
Cumps

A. João Soares disse...

Caro Guardião,
Gosto de salientar quem se evidencia acima da média. É desses que Portugal precisa para não cair ainda mais do que tem caído nos últimos tempos.
Só receio que essas esperanças resultem em desilusão com a saída deles para o estrangeiro onde podem melhor realizar os seus objectivos de profissio0nais ligados a sectores modernos, de investigação científica e de outros ramos da economia.

Um abraço
A. João Soares

Anónimo disse...

Concordo que se deva elogiar quem tem mérito e dignifique o nome de Portugal. Mas infelizmente são tão poucos e os maus exemplos são mais que muitos e vêm de cima......

Anónimo disse...

Jorge Coelho
Rui Calafate

Confesso que sempre simpatizei com Jorge Coelho. Ao longo dos anos moderou a imagem, seguindo o politicamente correcto do marketing político, mas nunca moderou as emoções. Os seus amigos adoram-no, os militantes socialistas acham-no fundamental e a alma do PS ainda depende dele. (…) O PS vai sentir a sua falta com a ida para a Mota-Engil. E Coelho vai perder alguma magia e um toque de pitoresco que sempre quis manter. Carlos Andrade perguntou bem: “estão a contratar uma gazua, ou um homem extremamente competente?”. Eu diria as duas coisas.
Mas quando a construtora ganhar alguma coisa, instalar-se-á logo a dúvida como a conseguiu.
Jorge Coelho político é Anakin Skywalker. Jorge Coelho gestor terá um lado Darth Vader. Como ficará para a História?

Comentário

Este artigo revela de certa forma um branqueamento da decisão de Jorge Coelho em ir para a Mota-Engil pois ele esteve no processo das Scuts e noutros semelhantes o que, desde logo, dá para se desconfiar da bondade do convite feito pela construtora.
Por outro lado as saídas dos políticos para empresas com quem tiveram ligações enquanto prestavam serviço na Administração do Estado duma maneira geral trazem a chamada “água no bico”. E em política deve proceder-se sempre com cautelas redobradas pois como se diz nestes casos: “a mulher de César além de ser séria deve parece-lo”.
Pessoalmente nada tenho contra Jorge Coelho mas acho que deveria ter sido mais cauteloso e menos ambicioso neste caso.
AS

A. João Soares disse...

A política, a riqueza e a política
http://jn.sapo.pt/2008/04/12/opiniao/a_politica_a_riqueza_politica.html

Paulo, Baldaia, Director, da TSF

(…) O poder do Estado é cada vez mais fraco, à medida que cresce o poder das grandes empresas. Já não é ficção científica uma multinacional poder fazer cair governos em países fracos, como uma grande empresa pode ajudar um partido a chegar ao poder, mesmo em países fortes.

A ideia de democracia é cada vez mais a ideia de um direito individual, em que cada um procura para si próprio o direito de ser rico para ser feliz. A democracia é cada vez menos altruísta e solidária. A lei muda constantemente garantindo a adaptação aos poderosos. São os seus interesses que fazem mudar a lei.

A questão não é política, nem é legal. O que não está bem, mas também ninguém vai querer mudar, é o modelo de sociedade em que vivemos. É impossível contrariar os argumentos da liberdade individual, do direito a ser recompensado pelo mérito. Mas também é difícil de aceitar que o mundo esteja cada vez mais injusto.
AS