sexta-feira, 18 de abril de 2008

O Papa, comparado a pastor?

No post anterior, está um comentário que compara Sua Santidade a um pastor e acaba por fazer uma salada com Papa, Bush e deputados loucos. Isto merece uma reflexão muito participada pelo que aqui deixo uns tópicos para a polémica.

Sua Santidade não pode nem deve ser comparado a um qualquer pastor de gado, de qualquer região do País. As pessoas, crentes ou não, não são ovelhas nem cabras, pois são dotadas de livre arbítrio e, como tal, podem comportar-se como desejarem, usufruindo depois, dos benefícios resultantes das decisões acertadas e arcando com os inconvenientes das acções menos correctas. É isso que os mais fanáticos associam à ideia de pecado e de prémio ou castigo na vida do além.

O pastor de gado tem o dever de controlar totalmente e sem intervalos o seu rebanho, pelo qual é totalmente responsável, mas o Papa não tem a mínima autoridade sobre os seus crentes, não os pode controlar e impedir de errar, porque isso iria conflituar com a liberdade e o livre arbítrio de cada um, que é responsável pelos seus actos e, segundo a sua fé, por eles será julgado no além.

O Papa é um conselheiro, um dirigente espiritual, um inspirador do Bem, para aqueles que o desejam ouvir e aceitam as suas opiniões.

A Igreja não foi criada por Cristo e Este foi o único representante do Pai na Terra e não delegou tal função em qualquer mortal, em qualquer dos seus «irmãos». E a Igreja não tem sido um modelo de cumprimento dos ideais de Cristo, como facilmente se vê na opulência do Vaticano e de todas as catedrais do Mundo, o que acontece, aliás, em todos os lugares de culto das outras religiões. Esse fausto surgiu como fruto das fraquezas humanas, que levam a respeitar apenas o que é grande e rico, mas afastou-se imenso dos ideais de simplicidade e desprendimento aconselhado por Cristo.

Também o amor aos outros, como a nós mesmos tem sido muito mal interpretado e praticado, principalmente no respeitante à palavra OUTROS. Se esse conceito tivesse sido bem interiorizado, não teria havido as cruzadas nem a Inquisição. Nestes e noutros casos, os OUTROS não foram amados e nem sequer respeitados.

E, apesar das declaradas intenções ecuménicas, as religiões continuarão a ser rivais entre si porque os respectivos «pastores» não querem perder as suas mordomias, o seu poder, comportando-se como os líderes de partidos políticos, nas suas rivalidades interpartidárias e intestinas.

Não nos deixemos iludir por palavras enganosas. O pastor de ovelhas ou de cabras tem características próprias, diferentes dos líderes de pessoas, dos chamados condutores de homens.

Por fim, quando se diz que o Mundo está louco, tem de se enfrentar as realidades sociais globais desde as relações de trabalho, às estruturas políticas, passando pelo desporto e pelas religiões. Por exemplo, numa época em que muita gente se afasta dos cultos religiosos mais tradicionais, influenciada pelo materialismo laico, maior é, estranhamente, a adesão a seitas nascentes e também a busca na droga de solução para as dúvidas e angústias espirituais, para a crise existencial.

Parece imperioso o apoio da fé na pesquisa da solução para os problemas mais complexos que preocupam as mentes, mesmo as evoluídas, mas raramente ela é procurada na direcção mais adequada. O ser humano é demasiado complexo e não deve ser encarado como se de ovelhas se tratasse.

Posts anteriores sobre religião:
- Páscoa. Religiões. Reflexões
- Festa de Natal tem 4.000 anos

3 comentários:

Compadre Alentejano disse...

Eu não vou destas lenga-lengas de pastores de ovelhas e cabras. Eu sou católico, não praticante.
Mas o que eu quero dizer, é que os abusos na Igreja Católica americana foram praticados por padres CATÓLICOS, sujeitos às rígidas regras da Igreja. Nem eram ovelhas, nem cabras, nem andavam tresmalhados...mas simples cidadãos que frequentavam os espaços da igreja católica...
Um abraço
ompadre Alentejano

Mariazita disse...

Meu caro João
Não me sinto suficientemente informada para debater o tema «religião», que acho fascinante.
Gosto de ler, ouvir, acumular conhecimentos. Mas não sei ainda o bastante para “defender” este ou aquele ponto de vista.
Uma coisa eu sei: as bases fundamentais de toda e qualquer religião são sempre as mesmas, que se resumem em dois simples conceitos
- Praticar o BEM
- Repudiar o MAL
Se ler o livro «Maomé, a Palavra de Alá» verifica que o próprio islamismo/maometismo – tão denegrido nos últimos tempos devido às posições extremistas de parte dos seus membros – tem como base esses mesmos princípios.
Tenho vindo a chegar a uma conclusão – todas as religiões são boas.
Maus, muitas vezes muito maus, são os que as adulteram e, à sua sombra, cometem as maiores atrocidades.
Corrija-me, se estou errada.
Bom Fim de Semana.
Beijinhos
Mariazita
Visitar A casa da Mariquinhas é sentir uma lufada de ar fresco. Confirme, e deixe comentário

A. João Soares disse...

Compadre Alentejano e Mariazita,
Já tinha respondido ao Compadre, mas devo ter esquecido de clicar em publicar!!!
Vamos lá ver se consigo alinhar aqui alguns conceitos que respondam aos dois.
Não deixei no post convicções nem uma opinião, apenas dúvidas e palpites. Desde o início da História, o ser humano sentiu necessidade de religião, de algo acima dele que lhe pudesse dar resposta às suas dúvidas sobre os astros, a sequência das estações do ano, etc. e algumas regras para o convívio social na colectividade rural em que vivia.
Criou religiões politeístas com um Deus para cada fenómeno. Mais tarde surgiram as religiões monoteístas. Como criações de homens, embora filósofos e sábios, elas não são perfeitas e sofrem dos erros humanos. Entraram na competição, entre si, e os «pastores», líderes ou condutores de homens fizeram a lavagem do cérebro dos seus seguidores, havendo alguns que levam jovens cultos a imolarem-se, em atentados terroristas suicidas, por uma ideia de ódio, à espera de terem à sua espera no além umas dezenas de virgens! O Deus único e bom que todas adoram permite-lhes que persigam os OUTROS, que seguem outro Deus, diferente do seu. A competição pelo número de aderentes, como é comum em clubes de futebol, de sindicatos, de partidos políticos, etc. desprestigia as religiões a coberto das quais têm nascido seitas numerosas cada uma com os seus defeitos. Sendo uma criação humana, as religiões não podem ser isentas de defeitos e de erros. Errar é humano.
Mas, mesmo assim, é preferível abafar as dúvidas íntimas no local de orações do que num antro de consumo de drogas e de álcool.
Sobre este tema pode gerar-se uma acesa polémica que, se for feita em termos civilizados e ordeiros será muito esclarecedora. Se a religião fosse expurgada de todos os seus pecados humanos, incluindo os excessos e as contradições com os seus mais elevados princípios e virtudes, seriam uma ferramenta de paz e elevação espiritual.
Cumprimentos
A. João Soares