quarta-feira, 9 de abril de 2008

A saúde em Portugal

Na passada terça feira, dia 1 de Abril, um jovem de 14 anos encontrava-se na sua aula de Educação Física. Iam fazer “salto em altura”.
Depois de fazer o aquecimento começou a sentir dor na perna esquerda.
A professora, apercebendo-se, aconselhou-o a parar.
Porque se trata de um “jovem lutador”, que não desiste facilmente, resolveu insistir.
Ao fazer a 3ª.chamada para o último salto, já na elevação, sentiu o osso da perna, a tíbia, deslocar-se, sentindo uma dor de tal modo violenta que o fez cair em cima do colchão, sem poder mover-se.
De imediato acorreu a professora, que logo se apercebeu da gravidade da situação, diligenciando a chamada de uma ambulância.
Ao mesmo tempo um colega avisou a mãe do jovem, que acorreu prontamente.
Quando a ambulância chegou, foram prestados os primeiros socorros, imobilizando a perna, e transportando-o para o Hospital Garcia de Orta, em Almada.
Chegado ao Hospital, ainda na triagem, foram-lhe administrados analgésicos.
Visto por um pediatra, foi mandado fazer Raio X.
Feito o exame regressou à triagem, onde uma enfermeira informou: vamos contactar um ortopedista para decidir o que fazer.
A ortopedista (era uma médica) analisou o exame, e concluiu que era necessário operar com urgência. Mas, contra o que pareceria lógico, mandou engessar a perna e voltar lá na 2ª.feira, dia 7, para a consulta. Nessa altura “se veria quando era possível realizar a cirurgia”.
Perante a estranheza dos pais, que acompanhavam o jovem em sofrimento, a médica, um tanto bruscamente, esclareceu que “urgência urgente” é para casos de fractura exposta.

E com esta resposta se retiraram.

À saída do Hospital Garcia de Orta o pai do jovem contactou o British Hospital, em Lisboa, expondo a situação. Foi-lhe dito que levasse o filho imediatamente para lá.
Atendido por um ortopedista, foi feito novo Raio X, TAC, e outros exames complementares, que o levaram a confirmar ser necessária a cirurgia.
A lesão era bastante grave. A tíbia, ao deslocar-se para cima, provocara estiramento de ligamentos, e sofrera uma pequena fractura ao empurrar para cima um osso do joelho, abaixo da rótula. Isto significa que havia fractura da “cabeça da tíbia”, estiramento de ligamentos e um osso deslocado.
O cirurgião, especialista em joelhos, marcou a operação para sexta-feira, dia 4.
Compreensivelmente nervosa e apreensiva, a mãe decidiu ouvir mais uma opinião, e foi consultar o médico ortopedista que acompanha o jovem desde tenra idade.
Este manifestou o seu assombro perante a atitude do Hospital Garcia de Orta, adiando para “data a anunciar” um caso manifestamente urgente.

Este relato foi feito de acordo com os testemunhos dos intervenientes: a minha filha e o meu neto, Carlos.

Com o recurso a assistência médica em Hospital privado, o Carlos foi operado na sexta-feira, dia 4, encontrando-se já em recuperação.
Isto aconteceu porque os pais puderam disponibilizar, não sem alguma dificuldade, os meios necessários para recorrer a esta solução.
Contudo, não podemos esquecer que a maioria da população não tem capacidade económica para o fazer, tendo que sujeitar-se a esperas e demoras que o sistema impõe.

Não posso e não vou falar de negligência médica.
No entanto, parece-me, no mínimo, leviano, o comportamento do Hospital Garcia de Orta, na pessoa da médica ortopedista que atendeu o Carlos: depois de considerar “urgente”, tratou como “normal” um caso de evidente urgência.
Como atenuante ao seu procedimento podemos admitir que o Hospital não tenha capacidade de resposta para todos os casos urgentes.
E ainda, seguindo esta linha de raciocínio, que a sua “brusquidão” se deva ao facto de ela própria se sentir desconfortável por não poder solucionar o caso atempadamente.

A avaliação feita, quer pelo médico que o operou, quer pelo ortopedista que o acompanha desde criança, indica que a decisão tomada pelo Hospital Garcia de Orta parece não ter sido a mais correcta.
Quanto tempo este jovem, em sofrimento, teria de esperar pela cirurgia?
Quais as sequelas que poderiam advir do facto da não intervenção rápida?
São incógnitas para as quais nunca teremos resposta.

Transcrito do Blog A casa da Mariquinhas
http://acasadamariazita.blogspot.com/

4 comentários:

José Lopes disse...

Quando o 1º critério apresentado para a avaliação é a economia, ou como disse um ministro «fazer mais com menos dinheiro», decisões destas acontecem, apesar da razão~dizer o contrário.
Cumps

A. João Soares disse...

Caro Guardião,
Acontecem e uma criança pode ficar a coxear toda a vida pelo facto de a fractura não ter sido tratada convenientemente e com oportunidade. Felizmente para este rapaz os pais dispõem de capacidade para o levar ao local certo onde foi atendido de imediato. Mas outros náo podem contar com esses meios.
Um abraço
A. João Soares

Anónimo disse...

O que o Guardião disse é inteiramente verdade e eu tive oportunidade de há pouco tempo sentir isso pois os serviços recebem ordens do tipo economicista e não podem reter um doente mesmo em internamento compulsivo mais de três semanas ainda que o doente não esteja em condições de ter alta. É este o nosso serviço de saúde!!! Acredito que a médica tenha tido aquele desabafo por se encontrar "entalada" entre o que devia e o que lhe era obrigatório fazer. Conheço médicos que por estas razões estão a saír dos Hospitais civis porque não aceitam estas medidas. Mas outros há que para sobreviverem têm que aguentar estas situações. É uma vergonha o que está a acontecer!
Soares da Cunha

A. João Soares disse...

Caro Soares da Cunha,
Há tempos ouvi que dentro em breve a eutanásia iria ser obrigatória para os reformados que adoecessem. Achei que era uma piada de mau gosto, mas depois de alguma reflexão sobre estes meandros do funcionamento, já nada me espanta. Poupa o SNS e poupa a Caixa de Pensões.
Que raio de perspectivas
Abraço
A. João Soares