quinta-feira, 9 de outubro de 2008

A crise financeira devia servir de lição, mas…

A vida passa-se entre duas bermas: o amor ou o cantar de um lado e o medo ou o chorar do outro, sendo da preferência de toda a gente viver mais próximo do amor e do cantar e o mais afastado possível do medo e do chorar. Mas a ambição, a imprudência, a insensatez, os erros sucessivos na busca de mais lucros, contrariando as boas normas, levam a desprezar os sãos princípios e os valores, morais, éticos e sociais e, em consequência, a descambar para o medo e agressividade que dele resulta e o choro devido às más consequências de decisões tomadas com o fito apenas no curto prazo sem pensar no que resultaria num futuro mais afastado.

As crises têm o condão de abrir os olhos a muitos dorminhocos e fazê-los pensar mais maduramente antes de decidirem, assim eles queiram aprender as lições. A actual crise está a ter bons efeitos nuns poucos indivíduos que sabem aprender com a experiência, mas infelizmente são raros.

Foi aqui mostrada uma explicação dos mecanismos que conduziram ao avolumar de uma bolha de lucros sem bases sólidas que, depois de muito dilatada, rebentou levando à falência várias instituições financeiras se não tivessem sido socorridas em força pelos dinheiros públicos, dos contribuintes. Depois, num outro post, em que se apresentavam exemplos da venalidade dos responsáveis e da falta de valores essenciais para a vida em sociedade, defendia-se que a crise podia ter sido evitada ou, no mínimo, reduzidas as suas consequências se tais valores fossem respeitados escrupulosamente.

Mas, o homem desliza facilmente nos maus meandros do vício e tem muita dificuldade em arrepiar caminho. Há exemplos muito degradantes que evidenciam a total ausência de vergonha em pessoas com alta responsabilidade e de quem se espera um procedimento sensato e lógico. São surpresas vindas do animal humano, de que é exemplo o caso referido no seguinte artigo do DN que a seguir se transcreve.

Há sempre alguém que diz não!
Ferreira Fernandes

A seguradora AIG já era famosa quando andava sob o pescoço de Cristiano Ronaldo, na camisola do Manchester. Mas famosa mesmo, mesmo, foi quando os americanos passaram a andar com a AIG ao pescoço. Esganados. Ela falira e não fosse sugarem-se os dinheiros públicos (85 mil milhões de dólares) a empresa fechava. Não fechar é bom e o que é bom festeja-se. Alguns executivos da AIG foram para um luxuoso hotel de Monarch Beach, Califórnia, com factura final de 300 mil euros, entre diárias, almoços e pedicura. Tudo pago pela empresa que, já vimos, era paga pelos contribuintes. Evidentemente, os invejosos do costume foram aos arames - na Câmara dos Representantes, alguns dos eleitos que ainda há pouco tinham votado o resgate da AIG indignaram-se com o abuso. É verdade que aqueles executivos, em superficial análise, parecem não merecer prémio algum, quanto mais pedicura. Como se fosse fácil lidar com a consciência. Esta é aquela voz interior que nos diz que alguém está olhando. Sem poderem usufruir dos luxos com merecida tranquilidade, aqueles executivos estavam, no entanto, a dar-nos uma esperança: a crise não é geral.

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