quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Imunidade, irresponsabilidade

Tendo relido uma carta publicada em A Capital em 21 de Abril de 2005, p. 9, achei interessante trazê-la aqui para reflexão sobre temas actuais Como se referia a um caso dessa data, substituí essas linhas por referências mais recentes.

Constitui um princípio incontroverso que em democracia não há ninguém acima da lei, não há classes dominantes como havia nas aristocracias absolutistas. Porém, apesar de este conceito ser aceite e afirmado por todos, ele não é real em todas as circunstâncias e sofre atropelos em países em que era esperada maior democraticidade e modernidade, mas em que a classe política de grau mais elevado é ciosa da sua imunidade, impunidade e, por conseguinte, irresponsabilidade.

Todavia, surgem exemplos positivos em países que, por vezes, somos tentados a qualificar no grupo de menos civilizados, mas que dão lições de civismo. Na Coreia do Sul, em Outubro de 1995, o ex-Presidente Chun Doo Hwan, depois de anos antes ter sido obrigado a devolver ao Estado 3,3 milhões de dólares que familiares tinham recebido como suborno de firmas americanas, foi condenado à morte, apesar de ter chorado na televisão a pedir desculpas. Na mesma data, o também ex-Presidente Roh Tae-woo recebeu a pena de 22 anos e meio de cadeia. Ambos tinham desempenhado as funções com muita eficiência no tocante ao impulso para o desenvolvimento do seu País, mas tendo sucumbido à tentação da corrupção.

Nos dias mais recentes, surgiu a notícia de um antigo ministro alemão ter sido punido com ano e meio de prisão por abuso de confiança no âmbito de financiamentos ilegais. No Ruanda, o Supremo Tribunal inicia o julgamento de ex-Presidente após o genocídio de 1944. No Equador, o Congresso Nacional (Parlamento) destituiu o Supremo Tribunal de Justiça. Este caso constitui uma lição para Portugal em que o sistema de Justiça, é um órgão de Poder não democrático por não ser eleito, nem directa nem indirectamente, pelos cidadãos e por não prestar contas a nenhum órgão eleito democraticamente. Os seus erros (impunes) têm originado que o Estado tenha sido obrigado por sentença de tribunais internacionais a pagar pesadas indemnizações com o dinheiro dos contribuintes.

Em comparação com a pequena amostra citada de casos estrangeiros, no nosso País, acima do escalão Câmara Municipal, impera a impunidade total, apesar de os políticos, quer em campanhas eleitorais quer em debates parlamentares, se mimosearem com acusações e insinuações suficientemente explícitas. Alguns casos recentes: Quem pagou os custos da insistência não plenamente justificada do aeroporto na Ota? e da sua desistência com pagamentos à região do Oeste? E os custos das hesitações quanto ao aeroporto em Alcochete? E da ponte Chelas-Barreiro cuja ideia foi solenemente inaugurada com palanque, governantes, autarcas e outras figuras, em Chelas e cobertura das televisões, durante o governo de Guterres?. E da decisão e dúvidas da construção do TGV entre pontos nacionais? E os custos dos avanços e recuos na avaliação de professores com prejuízos na eficiência da formação dos alunos?

É frequente ouvir-se os políticos atirar críticas graves a instituições da Justiça e a instituições dependentes dos poderes democráticos, sem consequências visíveis, constituindo desrespeito que acaba por alastrar à população em geral, gerando um clima de indisciplina social em que ninguém respeita ninguém e todos desconfiam de todos, mesmo de conselheiros do Estado!. Sendo a Democracia difícil de aprender e de praticar, estes casos impunes desacreditam-na antes mesmo de ela se impor, mesmo que precariamente, nos espíritos das pessoas. Convém pôr em prática a regra de que em Democracia ninguém está acima da lei e que esta é geral e obrigatória. E que os responsáveis por cargos públicos devem orientar os seus procedimentos com sentido de Estado e pelos interesses nacionais em que se insere o desenvolvimento sócio-económico do Pais e o aumento do bem-estar dos cidadãos, detentores da soberania.

4 comentários:

Anónimo disse...

Passados três anos e meio e está tudo na mesma senão pior.... Que desgraça!!!!! Estamos rolando como uma bola de neve serra abaixo e já ninguém pára esta avalanche? Aquela frase tão criticada feita por Manuela Ferreira Leite não será o prenúncio do que tem que se fazer para inverter este estado de coisas? Não gostava que tal acontecesse mas se fôr necessário para acabar com esta desgraça em que vivemos será o mal menor, mas não deixa de ser uma desgraça também sermos obrigados a fazê-lo e tudo por culpa dos nossos (des)governantes que nunca mais aprendem a gerir o País como deve ser!!!! Só se servem, não servem o País!!!!!!

A. João Soares disse...

Caro Luís,
O que os políticos acham ser importante é aparecer na Comunicação Social, tornarem-se conhecidos e, depois, arranjarem um bom «tacho dourado». (quantos ex-políticos estão no desemprego ou em dificuldades financeiras, mesmo que antes tivessem sido pobres?)
Ainda não perceberam que o povo já os conhece de ginjeira. Só os incondicionais do partido os levam a sério... por enquanto. Mas, até esses começam a abrir os olhos.
Não duvido das boas intenções dos governantes, para vencerem as próximas eleições, para se agarrarem ao Poder, para colherem os maiores benefícios para si e para os seus companheiros, familiares e amigos, sem olhar a custos e sacrifícios para o povo.
Porém, eles são um fruto do povo e não há outros melhores, porque os melhores não se sujeitam a tais manobras.
O que tem de ser melhorado é o sistema, começando por reduzir a quantidade de inúteis que enchem os gabinetes e só contribuem para aumentar a burocracia que dificulta a vida aos cidadãos e proporciona mais oportunidades para a corrupção. Querem controlar tudo até ao pormenor, como se isto fosse um quintal deles em regime de ditadura. Para isso saem leis feitas compulsivamente, sem sensatez, que originam mal-estar, reclamações e consequentes alterações.
Para isto começar a seguir um rumo mais consentâneo com a necessidade de moralização, sensatez e eficácia com vista ao desenvolvimento da justiça social, será necessário começar por fazer uma lista dos poucos (muito poucos, excepcionais!) lugares de acesso por confiança política, sendo todos os outros ocupados por concurso público honesto e rigoroso. Depois parar de fazer leis estúpidas, só porque sim, e fazer cumprir as actuais, apenas elaborando as que forem absolutamente indispensáveis para emagrecer a máquina do Estado e torná-la mais simples, transparente e eficaz, e bem elaboradas para não terem de ser alteradas logo a seguir e ser ignoradas, o que cria clima de desconfiança e desrespeito pelos governantes e deputados.
Quanto a redução de pessoal inútil, repare-se que na AR, os deputados votam como o partido determina, o que significa que bastava cada partido ter ali um único representante cujo voto valesse a percentagem do partido, como se faz nas assembleias de condóminos!
Poupavam-se as senhas de presença, os subsídios de transportes das falsas residências na Madeira ou em Bragança, para S. Bento, etc. Para quê tanto deputado? Para quê os conselheiros dos ditos? Quem vê o resultado das suas actividades para benefício dos cidadãos?
Quando uma árvore não dá bons frutos, corta-se.
Portugal não está em situação desafogada que permita ter tanta árvore ornamental!
Já que os nossos políticos não têm criatividade para melhorar o País, estudem-se as soluções adoptadas nos Países que mais se desenvolveram na Europa e adaptem-se ao nosso caso. E, em caso extremo, contratem-se gestores públicos para virem governar Portugal, como no tempo em que estiveram cá ingleses após as invasões francesas! A Federação Portuguesa de Futebol já faz isso para a selecção nacional. Tragam uma réplica do Scolari para a política.

Abraço
João

Anónimo disse...

Que pena os nossos (des)governantes não virem ao teu blog beber as boas e sensatas ideias que apresentas nos teus comentários. Este exercício que agora fizeste é prova provada que poderíamos estar bem melhor em todos os aspectos da governação caso seguissem o que aqui propões. Mas eles os "iluminados" não sabendo nada mas julgando-se detentores de toda a verdade entendem não ser necessário ouvir quem sabe. Triste sina a do Português.......

A. João Soares disse...

Caro Luís,
Os políticos saem da massa nacional e, o que é grave, não se distinguem por serem os mais aptos, mas os que precisam de mais amparo, aqueles que nem como alunos se distinguiram. Claro que há excepções, penso eu!
Depois, o Poder embriaga e eles convencem-se que são génios ou Deuses infalíveis que teimam nos sonhos que tiverem antes de acordar e que os levaram a grandes decisões que, embora imperfeitas e irreais, teimam em manter, sem recuo. Exemplos: na Justiça, na Saúde (o ministro teve o bom senso de se demitir), na Educação, em que o braço-de-ferro com os professores só cria danos no Governo.
E tudo isto seria evitado se os governantes ousassem fazer um esforço para pensar naquilo que têm que resolver.
Sugiro, para clarificar estas palavras, a leitura de um comentário que escrevi no post de 25 de Novembro, «Carta aberta à ministra da Educação», em que defino as regras da preparação da decisão.
Um abraço
João