quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Pensar antes de decidir

O pensamento estruturado, metódico, deve preceder a decisão e a acção. Já por várias vezes foi aqui referida a necessidade de estudo dos problemas antes de ser tomada uma decisão. Por exemplo, o post de 6 de Janeiro do corrente ano, Não existe mentalidade de planeamento nos serviços públicos abordava este problema e, posteriormente, num comentário, ficou exposta uma metodologia que, adaptada a cada situação, pode dar uma forte ajuda e que é a seguinte:

Em termos resumidos, as normas de preparação da decisão e deplaneamento devem passar por

1) definir com clareza e de forma que ninguém tenha dúvidas, o objectivo ou resultado pretendido.

2) Em seguida, descrever com rigor o ponto de partida, isto é, a situação vigente, com análise de todos os factores que possam influenciar o problema que se pretende resolver.

3) Depois, esboçar todas as possíveis formas ou soluções de resolver o problema para atingir o resultado, a finalidade, o objectivo ou alvo; nestas modalidades não deve se preterida nenhuma, por menos adequada que pareça.

4) A seguir, pega-se nas modalidades, uma por uma e fazem-se reagir com os factores referidos em 2) e verificam-se as vantagens e inconvenientes; é um trabalho de previsão de como as coisas iriam passar-se se essa fosse a modalidade escolhida.

5) Depois desta análise das modalidades, uma por uma, faz-se a comparação entre elas, das suas vantagens e inconvenientes, com vista a tornar possível a escolha.

6) O responsável pela equipa, o chefe do serviço, da instituição, o ministro, o primeiro-ministro, conforme o nível em que tudo isto se passa, toma a sua decisão, isto é, escolhe a modalidade a pôr em execução, tendo em conta aquilo que ficou exposto na alínea anterior.

7)Depois de tomada a decisão, há que organizar os recursos necessários à acção, elaborar o planeamento e programar as tarefas.

8)Após iniciada a acção é indispensável o controlo eficaz do qual pode resultar a necessidade de ajustamentos, para cuja decisão deve ser utilizada a metodologia aqui definida, por forma a não se perder a directriz que conduz à finalidade inicialmente pretendida.

As várias insistências neste tema, são agora «premiadas» pela notícia do Jornal de Notícias Daniel Bessa: Governo deve "parar para pensar" de que se extraem algumas ideias:

O Governo deve dirigir o grosso dos investimentos para as exportações, em prejuízo das grandes obras públicas que vêm sendo anunciadas.

O país importa muito mais do que exporta e a diferença equivale a 10% do Produto Interno Bruto (PIB), o que o obriga a sobre-endividar-se no estrangeiro, para pagar aquela factura. Há 17 mil milhões de euros, por ano, que "saem mesmo da Banca portuguesa" e vão direitos aos bancos estrangeiros.

No actual contexto de recessão internacional, que parece resolvido o défice de confiança dos cidadãos nos bancos, mas não o da confiança entre bancos, sobretudo, de países diferentes. "Os [movimentos] interbancários continuam em muito mau estado".

A garantia de 20 mil milhões que o Governo deu à banca nacional foi uma boa medida, para esta conseguir dinheiro emprestado no estrangeiro, mas frisou que ela não dura para sempre e, em breve, "teremos de ouvir mais notícias do Estado português"...

Considerou ser "tempo de olhar para as debilidades estruturais", e defendeu que a economia portuguesa só ultrapassará a crise, se conseguir diminuir o défice das transacções correntes. "Precisamos, como de pão para a boca, de pôr dinheiro em coisas que exportem".

"O nó górdio desta crise continua no sistema financeiro". O antigo ministro começara justamente por observar que a actual crise "é diferente das outras", porque "deixou a própria banca em condições de não se poder financiar", para concluir que, "se o dinheiro não circular no sistema financeiro, a crise não se resolve".

NOTA: Estamos numa situação difícil que não se compadece com pequenos remendos, nem paliativos. É preciso um estudo imparcial, isento, competente, sem preconceitos partidários, com dedicação aos verdadeiros interesses nacionais, com vista a encontrar a solução estrutural que vá ao encontro de um Portugal que seja melhor amanhã e que possa continuar a desenvolver-se no futuro.

10 comentários:

Anónimo disse...

Amigo João,
No artigo anterior nalguns dos comentários feitos falava-se em importar Pessoas válidas para dar um rumo a Portugal, não porque internamente não hajam Pessoas com capacidade para o fazer! O que acontece é que o sistema implantado não permite que elas sobressaiam e possam trabalhar com continuidade! Para o Português ainda é válida a ideia que "o que vem de fora é que é bom"! E assim só a um estrangeiro será permitido alterar o actual estado de coisas, para nossa tristeza!

A. João Soares disse...

Caro Luís,
Essa ideia de contratar um Scolari para a política repugna-me e só a considero como última hipótese. Seria mais do meu gosto uma solução já aqui expressa, que correspondesse aquilo que, segundo o comentador A.P., está a passar-se em Angola:
«em Angola existe algo chamado Agenda de Consenso Nacional, que orienta a convergência de todos os partidos políticos sobre o Plano de Reconstrução Nacional, algo imprescindível após 30 anos de conflito armado. É um excelente exemplo!
Não digo que em Portugal fosse necessário tanto, mas talvez fosse o momento de pensarmos numa Agenda de Consenso entre TODOS os quadrantes políticos e sectores civis do país, para voltarmos a colocar o país no rumo certo. Pois está mais que visto que não há um rumo para Portugal.
Precisamos urgentemente de um Plano de Recuperação Nacional da Educação, da Saúde, da Economia, etc...»


Se este consenso entre partidos não se constituir, para os principais temas, para as grandes reformas, e para as grandes obras públicas, então seria conveniente suspender toda a actividade partidária e criar um governo independente, com uma missão bem definida pelo período de cerca de seis anos para simplificar a administração pública tornando-a mais eficaz e menos custosa, sem tentações de corrupção nem de enriquecimento ilegítimo. Esta a~equipa seria controlada por um Conselho formado por representantes de todas as actividades profissionais e económicas do País, em que deveriam estar presentes os maiores gestores.

Se esta solução não se apresentasse viável, então, e só então recorrer-se-ia a menos de meia dúzia de políticos estrangeiros que escolheriam portugueses, não políticos, para completar um governo eficiente. Iriam escolhendo gestores públicos para tomarem conta do Governo no período a seguir, por forma a que pudessem ser reactivados os partidos políticos e regressar à normalidade democrática, no novo regime em que fossem reduzidas as nomeações por critério político e se recorresse a concursos públicos.
Ingenuidade? Utopia? Talvez, mas um bom tema para ser discutido, com a intenção de se acabar com o ambiente que estamos a viver.
Um abraço
João

Anónimo disse...

Amigo João,
De certa forma preconizas o que já existiu e com algum resultado: a União Nacional! Mas esta "malta" é isso que não quer porque lhes tolheria a libertinagem em que vivem! Mas na realidade necessitamos que um PR sério demita estes governos e institua um novo governo de cariz presidencial que comtemple um grupo de "bons" técnicos (de todos os quadrantes politicos) que tenha a capacidade de levar Portugal a bom porto. Era uma forma de se criar um grupo de trabalho que longe das "partidarites" conseguisse a tal união nacional de forma a dar-se continuidade ao levantamento do País.

A. João Soares disse...

Amigo Luís,
Cuidado com as palavras. Uma boa ideia pode ser condenada por ser expressa numa palavra «maldita». A «partidarite» esgota muitos recursos e exaure os cofre do Estado com ninharias, que apenas divertem os «boys». A tua ideia é boa devendo ter uma meta final inultrapassável. Repara que todas as ditaduras começam como uma solução adequada, mas depois tornam-se eternas. Para o PR fazer isso, tinha que alterar a Constituição, no que era indispensável o votos dos partidos e, para isso, seria mais conveniente a iniciativa de um consenso na definição de regras de regime, sobre pontos essenciais, como os que citei.
Como está só leva ao empobrecimento do País, excepto dos bafejados pelos partidos mais poderosos, com a substituição dos «boys» por outros quando muda o governo, o que fica muito caro e sustenta uma cambada de ociosos exploradores da Nação. Porém, se esses cargos forem preenchidos por concurso público e admitidos com um contrato que estabeleça as tarefas e os objectivos correspondentes, só haverá substituições nos termos do contrato.
Este tema merece séria ponderação, a todos os níveis. Mas os do Poder não estão muito interessados em pôr ordem no regime.
Abraço
João

Beezzblogger disse...

Meu Caro Amigo A João Soares, devemos ter em atenção os sinais exteriores, o mundo que nos rodeia e aprender com os erros, por isso afirmo a necessidade de ouvir os mais velhos, estes já erraram, e podem-nos indicar o caminho sem o erro. Por isso, quando os nossos políticos, como o caso do nosso PM, na sua maioria absoluta, fechou-se na arrogância absoluta, este fez o que outros outrora o fizeram, e mal, a meu entender.

Penso que devemos nos reorganizar em fóruns de discussão, abertos sobretudo aos mais experientes, aos maus capazes, e também contribuindo de forma a apontar novos caminhos, assim, seremos mais justos, mas também mais coesos.

Abraços e Bom feriado.

@Beezz
Carlos Rocha

Beezzblogger disse...

Quandisse "Maus capazes", quero dizer Mais capazes. Fica aqui o registo.

Abraços.

@Beezz
Carlos Rocha

A. João Soares disse...

Amigo Carlos Rocha,

Considero estas suas palavras muito sábias. A organização de discussão em grupo com pessoas de formação diferente mas com sensatez, conduz à visão global dos problemas. E, depois, quem tem que de decidir fica de posse dos conceitos aplicáveis e tem facilidade em escolher as melhores soluções para os problemas, tendo em atenção todas as implicações que daí resultarão.
O grande erro dos políticos é considerarem-se donos de toda a verdade e de poderem fazer o que lhes apetecer. O resultado está à vista actualmente no nosso País. Cada vez estamos mais afogados no pântano.

Um abraço
João

José Lopes disse...

Um dos nossos calcanhares de Aquiles é o planeamento, e outro a disciplina, por isso acho que de facto é difícil chegar mos longe sem cuidar-mos destas nossas fraquezas.
Cumps

A. João Soares disse...

Caro Amigo Guardião,

Parabéns por se ter interessado por este post. É um dos n´meus melhores posts, talvez o melhor, e por isso o cito muitas vezes. O esquema é uma adaptação da doutrina militar para a preparação das grandes decisões, na guerra onde há pessoas em perigo de vida, se consomem muitos recursos e se faz a «economia de meios», para não se ficar desarmado, e se visam altos objectivos em que a glória do país pode ser drasticamente prejudicada ou valorizada.
Vi este modelo devidamente adaptado à gestão de empresas num Curso Superior de Management conduzido pelo INII (Instituto Nacional de Investigação Industrial).
Ainda não encontrei método melhor e, por isso, o cito repetidas vezes.

Um abraço
João
Do Mirante

Fernanda Ferreira - Ná disse...

Amigo João!

Conforme sua sugestão, vim ler hoje este seu fantástico post!

Planear é essencial, sempre foi e será.
Nas pequenas ou grandes decisões, é fundamental que se faça uma análise e se avaliam os resultados mais prováveis.
Se já há um modelo aplicado e com resultados evidentes de sucesso, porque não o seguir???

Beijinhos
Ná - Na casa do Rau