quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Alerta para clima de revolta

O alerta não vem dos bloguistas, tão mal vistos pelos governantes. Vem do pai do PS, do ex-primeiro–ministro e ex-Presidente da República, Dr. Mário Soares.

No âmbito de uma conferência sobre Novas Políticas, organizada pelo Inatel, ontem à noite no Teatro da Trindade, fez declarações muito significativas e que devem ser tidas em boa conta pelos governantes que não se cansam de falar em defesa obstinada de medidas mal fundamentadas e que são objecto de crítica generalizada. Transcrevem-se algumas das suas palavras

“As pessoas tiram as conclusões das coisas. Como podem as pessoas aguentar que o Estado vá salvar um banco onde se sabe que há roubalheiras absolutas e fique tudo na mesma depois do Estado lá meter o dinheiro dos contribuintes. Não é possível”.

“Espero que se saiba o que se passou no BPP e no BPN. Tudo tem de ser esclarecido. É preciso transparência no País, senão é impossível haver confiança. Isso gera revolta e não estamos imunes que isso aconteça em Portugal”.

«Oiçam-se as pessoas na rua, tome-se o pulso do que se passa nas universidades, nos bairros populares, nos transportes públicos, no pequeno comércio, nas fábricas e empresas que ameaçam falir, por toda a parte do País, e compreender-se-á que estamos perante um ingrediente que tem demasiadas componentes prestes a explodir”.

“Com as desigualdades sociais sempre a crescer, o aumento do desemprego que previsivelmente vai subir imenso, em 2009, a impunidade dos banqueiros delinquentes, o bloqueio na Justiça, e em especial, do Ministério Público e das polícias, estão a criar um clima de desconfiança - e de revolta - que não augura nada de bom».

“Há investigações e há fugas da justiça que não se sabe de onde vieram. Tudo isto são questões importantes que devem ser esclarecidas. Acho que tudo deve ser rapidamente esclarecido, mas quem sou eu para pedir isso?”

NOTA: Mais uma vez se sugere que as decisões sejam preparadas segundo um método semelhante ao constante do post Pensar antes de decidir e que os estudos de base tenham sempre em mente o desenvolvimento do bem-estar dos portugueses, nomeadamente os mais carentes de recursos e não, como parece ser normal nos governantes, os dos banqueiros e outros ex-políticos. Segundo o compadre alentejano, «Dá até a impressão que os membros do governo estão a precaver-se, para no futuro, seguirem a carreira bancária...Será?»

2 comentários:

Anónimo disse...

As crises são propícias a muita coisa...
Por isso onde está "investimento público" eu leio: "futuros tachos".
E como não há almoços grátis estes favorecimentos à banca certamente têm contrapartidas.

A. João Soares disse...

Caro AP,
Os grandes investimentos são propícios a «habilidades» dos políticos que usam da sua capacidade de influência, que assinam os contratos que autorizam licenciamentos, que aceitam que os pagamentos finais sejam quase o dobro do contrato inicial, etc. Se houvesse uma justiça capaz, se o sigilo bancário não fosse sagrado, se os sinais exteriores de riqueza dos políticos e dos seus familiares fossem averiguados, deixaria de haver tantos investimentos públicos, elefantes brancos, que hipotecam o futuro do País e que não têm utilidade proporcional ao seu custo.
Olhando para trás, podemos concluir que nos negócios com políticos, para ultrapassar as dificuldades da burocracia emperrante, há almoços que, como diz, não são grátis.
Um abraço
João Soares