quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Verdade, Medo, tradição da abdicação

Apesar da catadupa de promessas, em que pouca gente já acredita mesmo dentro do partido, elas não param. Mas, embora quase ninguém acredite em nada, está generalizado o temor de opinar e dar palpites.

Há dias foi Manuel Alegre, a propósito das confusões das últimas semanas e dos gritos alucinados clamando pela inocência em contraposição com o obscurantismo das realidades, evitando transparência e verdade, e gerando medo nos cidadãos, disse que "há uma tradição de abdicação cívica, para não falar de cobardia".

Também, de dentro do partido, surge uma peça relevante deste berbicacho que é um artigo do eng. Henrique Neto, « publicado no Jornal de Leiria, onde o conhecido empresário socialista reafirma, claramente, que vivemos na indiferença porque o medo está presente e a presença do medo dá azo à resignação». Portanto os termos medo, resignação, abdicação, cobardia, não são filhos de mãe solteira, têm muitos pais.

Um elemento que conduz a esta falta de participação cívica é o ministro dos Assuntos Parlamentares, amador da «malhação» (democrática?!) que, com a sua propaganda tipo Goebels ou ministro da informação de Saddam, lança acusações, anónimas e sem argumentar fundamentos, de actos sacrílegos de tentativa de assassinato político, moral e pessoal de José Sócrates, o seu Deus único e omnipotente. Os seus modos arrogantes e descorteses (caso da má educação em relação a Alegre) conduzem os mais «abdicados» a manter a boca fechada. Mas esta ausência de opinião audível pode ocultar, e em muitos casos oculta, um voto noutro partido, por parte de muitos votantes habituais no PS.

E nos temas em que ele mais defende o seu líder espiritual, nada esclarece, quando a melhor solução seria tornar tudo o mais transparente possível, para que a VERDADE saltasse rapidamente à tona. Porque ela acabará por tornar-se visível e, quanto mais tarde, mais estragos fará no bom nome de quem está a querer esquivar-se.

A VERDADE é um dos valores que mais deve ser acarinhado e quando está ausente, tudo piora. Ramalho Eanes, discursando numa conferência sobre defesa nacional, presidida pelo ministro Severiano Teixeira, considerou que os partidos políticos devem aproveitar o período eleitoral que se aproxima para falar a VERDADE aos portugueses porque, só a conhecendo, se pode fortalecer a opinião pública e acabar com um clima de medo, e afirmou que na sociedade actual existem vários medos como o «medo do presente, do futuro, pelos filhos, pela sorte dos pais, pelo emprego e medo dos poderes políticos».

A necessidade de VERDADE é consensual e, não é por acaso que a líder do PSD intitulou o fórum, agora iniciado, de “Portugal de Verdade” para contrastar com o “jogo de mentira que o Governo alimentou durante meses” sobre a crise económica. E pretende que seja “um fórum real onde não entra a política do espectáculo e dos efeitos especiais”.

Porém, uma iniciativa com o propósito de esclarecer as pessoas, cultivar a transparência democrática e a VERDADE e dar a cada cidadão ferramentas para raciocinar por si, sem se deixar enganar por propagandas mentirosas, devia ser patrocinada, não por um partido, mas por uma instituição suprapartidária e que contasse com especialistas nos diversos sectores, não vinculados a partidos, a fim de se poder olhar de frente a VERDADE e não ficar detido na contemplação de verdades com letra minúscula eivadas dos interesses partidários.

Alguns dos elementos consultados para elaborar este texto:

“Há tradição de abdicação cívica”

«Homens sem reino»

Augusto Santos Silva: "está em curso uma tentativa de assassinato político e moral de José Sócrates"


Eanes vê Portugal bloqueado por medos

“Portugal de Verdade” vai ter sessões nas capitais de distrito nos próximos meses

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