domingo, 15 de março de 2009

Vantagens dos medicamentos em mono-dose

Transcrição de texto de um médico, recebido por e-mail, por ser merecedor de atenção

Despesa anual com o receituário em vigor dos medicamentos

Em 1960, quando nos licenciámos em Portugal, Coimbra, como é lógico ensinaram-nos a receitar medicamentos e assim prosseguimos até 1966, data em que emigrámos para um País anglo-saxónico depois de cumprir 36 meses no norte de Angola nas Forças Armadas.

Quando nessa data começámos a trabalhar quer em hospitais quer em clínica privada, tivemos que alterar inúmeras facetas do exercício da medicina, pois a língua latina era a base da nomenclatura e nós aprendemos com base no francês.

Naquela data, repito 1966, quando receitávamos, quer nos hospitais quer em clínica privada, os medicamentos eram referidos às farmácias em mono-doses e assim prosseguimos durante mais de 20 anos. Quando regressámos a Portugal ficámos admirados e intrigados pelo receituário ainda ser como era quando nos licenciámos em 1960.

Depois de investigarem o assunto, e se se alterasse o sistema para mono-doses, chegaram à conclusão que o Estado poupava cerca de 180 milhões de euros por ano!!!

A razão é muito simples: o custo de embalar é caro e os medicamentos que acabam em nossa casa a mais e passam o prazo de validades são inúmeros.

De facto um quinto dos medicamentos receitados não é utilizado porque os doentes não os tomaram, e em metade destes casos, isso ficou a dever-se à inadequação de dimensão das embalagens.

Mas será assim tão complicado mudar-se o sistema? Claro que não. Os laboratórios recebem os medicamentos dos Países de origem em macro embalagens e estes deveriam ser enviados às farmácias ou hospitais devidamente selados. As farmácias, consoante as receitas, colocariam as doses prescritas em frascos de plásticos ou vidro e seriam entregues aos doentes, depois de rotulados, com a indicação de como se deviam tomar.

O processo é simples. As farmácias disporiam de uma máquina automática de colocar dentro de um frasco de vidro ou plástico a quantia exacta. Aqui há um pormenor importante a realçar: a receita escrita pelo médico é diferente de Portugal. Dou um exemplo: se eu quiser receitar Voltaren em comprimidos, escrevo o número total destes, mas a receita vai em termos técnicos latinos. Exemplifico: se o doente tomar 3 comprimidos por dia durante 7 dias escrevo I TDSx21. Se quiser que o doente tome 2 comprimidos por dia durante 7 dias escrevo I BDx14. Se quiser que tome 4 vezes por dia escrevo I QIDx28. O farmacêutico está a par deste código que é em latim e dá a receita sem erros, o que muitas vezes não se passa aqui em Portugal, quando a letra do médico é ilegível. Estes termos em latim são muito antigos e vem da idade média onde o latim era a linguagem certa e correcta.

Assim tem sido nos Países anglo-saxónicos, africanos, etc. onde milhares e milhares de médicos receitam e os doentes levantam nas farmácias sem qualquer problema. Aliás eu concordo com este sistema. O doente recebe o medicamento sem qualquer literatura, não dando margem a ser levados em erro ou auto medicarem-se se são hipocondríacos e julgam que tem as doenças que ali vêm descritas.

Por experiência própria, nunca tive problemas nos mais de 20 anos em que exerci naqueles Países nem tomei conhecimento de anomalia ali verificada, com outros médicos, hospitais, etc. Não me estou a ver a receitar em Portugal com os termos acima indicados. O farmacêutico como não sabe latim julgava que eu estava senil...

Por me ter sido solicitado ao longo dos últimos anos em Portugal e em diferentes serviços de saúde de vários Governos, às vezes de viva voz, fui dando conhecimento da minha experiência pessoal, mas nada foi alterado. Simplesmente prescreveu... De tempos a tempos surgem na comunicação social notícias sobre este assunto, mas desaparecem rapidamente... com 40 anos de atraso. Estão em experiências!!

Para juntar aos custos atrás referidos há o factor da reciclagem ou incineração. Os medicamentos que passam o prazo de validade têm de ser separados das embalagens, plásticos ou vidros, etc., etc. A triagem é pois demorada e muito complexa. Tudo isto se vai reflectir no custo dessa operação. Entretanto foi criado no Algarve um centro de queima e reciclagem de medicamentos usados ou fora da validade. Para ali foram enviadas várias toneladas. Quando tudo estava para acontecer a APA (Agência portuguesa do Ambiente), ordenou a suspensão de todos os envios de resíduos para queima na incineradora em Fevereiro deste ano de 2009. Razão. Não tinha sido criada uma unidade de triagem para separar os comprimidos, cápsulas, etc. das embalagens de vidro, plástico ou cartão. Estes resíduos foram armazenados até que seja criada uma unidade de triagem! O custo por tonelada da reciclagem fica em 40 euros e o da incineração oscila entre 60 a 150 euros segundo a QUERQUS. Mas Portugal está atrasado em relação a isto tudo. A UE tem chamado a atenção a Portugal, pelo despejo por todo o País de resíduos tóxicos.

Como é possível falar em política de contenção dos gastos públicos com a saúde e da sua sustentabilidade se se persiste em não alterar por exemplo o que atrás foi por nós referido? Os custos financeiros e sociais são elevadíssimos e irreversíveis e como se pode calcular a despesa com medicamentos por habitante tem que ser das mais altas da Europa. O Tribunal de Contas tem concluído que o desperdício dos recursos financeiros do S.N.S atinge os 25% do material afecto à saúde.

Como importamos mais de 90% dos medicamentos, é fácil entender que sendo a nossa dívida externa de 2 milhões por hora, se fosse feita a alteração para mono-doses, a economia traduzir-se-ia em cerca de 180 milhões de euros por ano, 500 mil euros por dia, a que acresce a poupança com a desnecessidade de destruição de medicamentos e embalagens não utilizados. Como a APA ordenou o armazenamento de tais produtos, quantos milhões irá isto custar? E a saúde pública será ou não afectada com tal concentração de produtos? Como se vai fazer a segurança desses armazéns? Há 15 anos que Portugal é confrontado com o despejo de produtos tóxicos de norte a sul. E ainda chamam de pessimista ao Senhor Dr. Medina Carreira?

Bendita Pátria que tais governantes pariu.
Artur Santos Dias

6 comentários:

Compadre Alentejano disse...

Já passei por situações de ter necessidade de tomar uma quantidade mínima de comprimidos, e ter que adquirir 3 ou 4 vezes mais.
Mas os laboratórios e as farmácias querem vender é cada vez mais, não se interessando que os doentes não têm falta.
Um abraço
Compadre Alentejano

A. João Soares disse...

Caro Compadre,
Os nossos governantes nâo mostram ter capacidade para analisar as realidades nacionais e procurar soluções adequadas.
Se procurarmos simplificar a descrição da actual situação, verificamos que as empresas, grandes ou pequenas vivem da ganância do lucro sacrificando todos os clientes, consumidores. E estes são incitados à loucura do desperdício consumista pelos bancos com oferta de créditos para tudo, inclusive as férias: Vá de férias e pague depois.
Os medicamentos encaixam neste esquema, e as pessoas nem dão conta que estão a ser levadas para a desgraça, porque a preparação fornecida na escola não lhe serve para gerir os seus interesses pessoais. Ignorância quase total!
Os governantes comungam dessa ausência de saber mas há da parte deles muito egoísmo, porque não estão interessados em combater estes abusos para não prejudicarem os seus planos ambiciosos de riqueza pessoal, como se viu nos gestores do BPN, BCP, BPP e muitas outras empresas, algumas com dinheiros públicos, onde eles se encaixam.
Abraço
João Soares

Maria Letr@ disse...

Meu caro amigo João Soares! Como eu gostaria de "estender-me" no meu comentário sôbre este assunto .... Mas não convém, até porque qualquer dia "despediam-me" dos blogs por escrever demais. Gostaria de dizer só uma coisa: Nem pensemos, sequer, em arruinar o império dos laboratórios! Já pensou (mas que pergunta!), no que aconteceria se entrasse por um ouvido das pessoas, verdades sôbre as curas conseguidas através da medicina natural, e o outro ouvido as desviasse para a mente delas? Nem imagine! Será melhor. Eu tive sempre problemas de saúde até 1977. A partir daí virei-me para a prevenção e há 32 anos que não tomo um único medicamento. NUNCA, na minha vida tomei um comprimido para dormir. E, amigo João Soares, até 1977 tive delicados problemas de saúde, repito.
Maria letra

A. João Soares disse...

Cara Maria Letra,
Uma boa alimentação, variada e sem excessos, será origem de boa saúde. Ocasionalmente um reforço com produtos naturais ajudará a vencer qualquer dificuldade que apareça. Isto não é nada de novo. Os remédios químicos surgiram com base em produtos naturais que depois foram evoluindo pela química.
Abraço
João Soares

Eurico disse...

Caro J. Soares:

Em 1987, nos Estados Unidos, tomei conhecimento da prescrição mono-dose, a única que permite economia ao Estado e ao doente e não cria desperdícios com o acréscimo de despesas que provoca como é referido no Post. Só posso concluir que nada muda por incompetência dos responsáveis ou por falta de coragem política para enfrentarem os poderosíssimos lóbis da Indústria Farmacêutica. Como muitos outros, estes são os reais problemas que afectam a qualidade de vida e o bem-estar dos portugueses. Com o endividamento galopante do País seria uma poupança fácil de realizar. Ou haverá interesses pouco transparentes que impedem a alteração do sistema? Este é um assunto que o governo devia esclarecer, de forma clara e transparente os Portugueses
Um abraço

Eurico

A. João Soares disse...

Caro Eurico,
Mas o Governo não está interessado em esclarecer. Não esclarece o caso do Freeport, do Aterro da Cova da Beira , da Urbanização do Vale da Rosa em Setúbal, do Magalhães, do contrato feito com o Dr João Pedroso com o ME, do contrato com a Mota Engil para os contentores em Alcântara, etc.
Mas isto não acabará bem para os actuais exploradores dos recursos do Estado e não demorará muito.
Um abraço
João Soares