quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Globalização e Ecologia

Quando se refere a globalização é usual situar a sua origem nos descobrimentos portugueses que estabeleceram contactos entre culturas, sociedades, economias diferentes, distantes, nas diversas partes do mundo. Essa globalização rapidamente alastrou os seus efeitos humanamente negativos, com o colonialismo, a exploração económica que definiu as áreas geradoras de riquezas materiais a ser exploradas pelas grandes empresas industriais multinacionais que, na sequência, desenvolveram o marketing criador do grande vício do consumismo e da ostentação.

E assim entrámos na era actual em que o ciclo de qualquer produto origina sucessivos desgastes na Natureza, que tornam a terra, o mar e o ar cada vez menos próprios à vida saudável dos seres que aí habitam.

O excesso de lixos provenientes da indústria, da embalagem da comercialização, dos desperdícios e dos «monos» finais, muitas vezes abandonados nas margens das estradas e de caminhos de floresta, estão agora a suscitar uma campanha de voluntários para «Limpar Portugal» procurando sensibilizar as pessoas e as autoridades que se mostram incompetentes e incapazes de evitar as vergonhosas lixeiras ilegais que impunemente infestam as paisagens.

Mas também no mar já existem grandes extensões de lixeiras flutuantes onde a vida marítima é impossível e os poucos peixes que restam nas imediações acabam por contribuir para produtos alimentares altamente tóxicos.

Por outro lado, o sismo de 7,6 graus na escala de Richter, com epicentro ao largo das ilhas Andaman, no oceano Índico ocorrido na madrugada de 10 de Agosto, mais ou menos à mesma hora, de um outro abalo, também de forte magnitude (6,6) no Japão, tendo ambos ocasionado a emissão de alertas de tsunami, faz recordar que a Terra é muito sensível aos erros humanos.

Se a Natureza tem tido capacidade para recuperar de pequenas agressões, há pouco tempo tem vindo a mostrar que as grandes agressões são irreparáveis. Grande agressão, para este efeito, são as pequenas agressões continuadas, desgastantes e cuja acumulação de consequências assume alta gravidade, e é irreparável

É que o Planeta não é inerte. É uma grande massa em fusão, densa, a altas temperaturas, sempre em ebulição revestida por uma ténue, pouco espessa (proporcionalmente) nata sólida, superficial, que pode movimentar-se e sofrer roturas. O excesso de pressão numa área por efeito de urbanização pesada ou grandes albufeiras artificiais vai afectar o equilíbrio de forças internas que poderão criar problemas quer na proximidade quer à distância. Daí a ocorrência de sismos, vulcões, movimento dos continentes, etc.

A actividade da zona sensível do «anel de fogo» em que se concentra a maior parte dos fenómenos tectónicos, sísmicos e vulcânicos, é muito influenciada pela variação das forças superficiais exercidas pela actividade humana. Este «anel de fogo» passa pelo Mediterrâneo (rotura tectónica entre a Europa e a África), Mar Vermelho, Ásia do Sul (vários sismos recentes de grande intensidade), Extremo Oriente, Pacífico, Califórnia, Golfo do México, Açores e Gibraltar.

Hoje está a desenhar-se uma nova ameaça à estabilidade do núcleo em fusão do Globo, por alteração do peso sobre a crusta terrestre devido ao degelo dois pólos e das neves perpétuas das altas montanhas por força do aquecimento global decorrente das alterações climáticas.

Do conjunto das alterações tectónicas e de pressões sobre a superfície do Planeta resulta forçosamente a alteração climática (embora estas tenham outras causa muito profundas). Estas também são globais e a acção local deve ser sempre considerada com toda a precaução, tendo em conta as interacções com o Planeta.

Globalização é, assim, um fenómeno muito complexo com que temos que aprender a conviver, da forma mais pacífica possível e sem demissões ou abdicações cívicas.

Mesmo quando se planeia a prevenção e o combate aos incêndios florestais é preciso contar com as piores circunstâncias potenciais, para depois, perante o número de hectares ardidos, não se argumentar infantilmente que a culpa foi do clima (verão mais quente e seco do que o esperado).

Planear é prever. Gerir ou governar é precaver-se contra as piores hipóteses.

4 comentários:

Maria Letr@ disse...

Este texto, precioso quer pela correcta explanação do seu tema, quer pela elevada importância do mesmo, fará reflectir qualquer cidadão menos atento à triste realidade a que estamos a assistir, de toda uma série de dramas naturais. De quando em quando, somos castigados severamente pela Natureza, quantas vezes com danos irreparáveis. Se, na verdade, ao menos planeássemos, como o texto bem refere, talvez as causas das catástrofes fossem minimizadas.
Um abraço.
Maria Letra

A. João Soares disse...

Amiga Mizita,

São sem dúvida castigos da Natureza. Hã poucos anos, um pároco muito conhecido numa das principais paróquias de Lisboa disse que Deus perdoa sempre, o homem perdoa às vezes, a Natureza nunca perdoa.
Sou um pouco menos radical e admito que a Natureza corrige muitos erros, muitas agressões do homem, mas quando são muito repetidas e generalizadas, ultrapassam a sua capacidade de regeneração e cai na degradação, como é o caso da desertificação e do desaparecimento das espécies, bem como dos ajustamentos tectónicos que acarretam muita desgraça bem visível.
É preciso que os responsáveis mundiais tomem consciência disto e adoptem medidas drásticas, antes que seja tarde demais.

Beijos
João

Maria Letr@ disse...

Para discutir, com profundidade, o alcance que têm os males que infringimos na Natureza, eu teria de ter conhecimentos mais completos, que não tenho. Sei, porém, o suficiente para ter a opinião que dei no meu anterior comentário, a qual não creio bastar para escrever mais sobre isso. Mas, meu amigo, o que escreveu sobre a matéria bastar-nos-á para reflectirmos. E eu faço-o, muitas vezes. Sou feliz, no que diz respeito à atitude que cada um deva tomar em relação à Natureza, senão por mais, pela lição bem aprendida de que, até à data, os meus filhos e netos se servem. E quando alguém prevarica, a família cai-lhes em cima.
Um bom dia, João Soares.
Maria Letra

A. João Soares disse...

Querida Mizita,

Isto são crimes inqualificáveis. Temos que gritar com toda a força para que estas e outras situações parecidas sejam resolvidas já que as autoridades andaram de olhos fechados e deixaram que o ambiente fosse tão destruído e as populações tão ameaçadas por tais abusos. Onde tem andado o Governo, os deputados dos distritos eleitos por nós, os autarcas, os fiscais, etc? Porque não evitaram que este perigo para o ambiente tivesse atingido tamanhas proporções?

Durante as campanhas descem aos povoados só para pedir votos, mas nunca mais voltam para ver e reprimir estes crimes contra as pessoas e a Natureza, que é seu DEVER defender.

Não podemos mostrar a mínima compreensão por tais crimes nem atenuar a gravidade desta situação que pode ser igual a muitas outras. Não devemos ser coniventes, cúmplices, comparsas destes crimes.
É preciso usar toda a força dos nossos gritos de alarme para obrigar os (ir)responsáveis a resolver o problema que eles deixaram criar, com a sua incúria e desprezo pela população que DEVEM proteger. Temos que os levar a pôr ponto final nisto.

Não é com palavras atenuantes do crime que se consegue a solução, mas sim com a análise rigorosa do significado de tal incompetência, desprezo pelo País e pela população, que os poderemos sensibilizar, na pouca sensibilidade que possam ainda ter.

Agora, para fazer a limpeza, é preciso muito dinheiro? Certamente, mas ele não tem faltado para os prémios aos administradores das empresas do Estado, do Banco de Portugal e de outros serviços estatais, a compra de carros de topo de gama para substituir carros com pouco tempo de uso, para terem assessores aos molhos, que mostram utilidade ao não ajudarem a evitar estes crimes ambientais nem a resolvê-los a tempo), etc, etc.

Beijos
João