segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Política, comédia ou palhaçada

Depois dos posts Chamem o ‘Guinness’, Mais infantilidades ou meras incoerências? e Super-gajo modelo nacional, surge agora este texto no JN que nos ajuda a pensar na forma como está a ser construída a cúpula do poder que pretende governar Portugal, condicionar o destino dos portugueses. Será bom que estes meditem bem na responsabilidade que têm de votar nos seus carrascos, e reparem que não é por acaso que surgem apelos ao voto em branco e, agora, o partido do voto nulo que ataca a abstenção. Não se deve dar o voto a quem não considerarmos merecedor, E há, na actual situação, alguém que o mereça?

Os comediantes
JN. 090810. Por Mário Crespo

Ao pedir a um cunhado médico que lhe engessasse o braço antes de uma prova judicial de caligrafia que o poderia incriminar, António Preto mostrou ter um nervo raro. Com este impressionante número, Preto definiu-se como homem e como político. Ao tentar impô-lo ao país como parlamentar da República, Manuela Ferreira Leite define-se como política e como cidadã. Mesmo numa época de grande ridículo e roubalheira, Preto distinguiu-se pelo arrojo e criatividade. Só pode ter sido por isso que Manuela Ferreira Leite não resistiu a incluir um derradeiro arguido na sua lista de favoritos para abrilhantar um elenco parlamentar que, agora sim, promete momentos de arrebatadora jovialidade em São Bento.

À tribunícia narrativa de costumes de Pacheco Pereira e à estonteante fleuma de João de Deus Pinheiro, vai juntar-se António Preto com o seu engenho e arte capazes de frustrar o mais justiceiro dos investigadores. Se alguma vez chegar a ser intimado a sentar-se no banco dos réus, já o estou a ver a ir ter com o seu habitual fornecedor de imobilizadores clínicos para o convencer a fazer-lhe um paralisador sacro-escrotal que o impeça de se sentar onde quer que seja, tribunal ou bancada parlamentar.

Se o convocarem para prestar declarações, logo aparecerá com um imobilizador maxilo-masséter-digástrico que o remeterá ao mais profundo mutismo, contemplando impávido com os olhos divertidos de profundo humorista os esforços inglórios do poder judicial para o apanhar, enquanto sorve, por uma palhinha apertada nos lábios, batidos nutritivos com a segurança dos imunes impunes.

Em dramatismo, o braço engessado de Preto destrona os cornos de Pinho. Com esta escolha, Manuela Ferreira Leite veio lembrar-nos que também há no PSD comediantes de grande calibre capazes de tornar a monotonia legislativa no arraial caleidoscópico de animação que está a fazer do Canal Parlamento um conteúdo prime em qualquer pacote de Cabo.

Que são os invulgares familiares de José Sócrates, o seu estranho tio ou o seu temível primo que aprende golpes de mão fatais na China, quando comparados com um transformista que ilude com tanta facilidade a perícia judiciária? António Preto é mesmo melhor que Vale e Azevedo em recursos dilatórios e excede todos os outros arguidos da nossa praça com as suas qualidades naturais para o burlesco melodramático.

Entre arguidos, António Preto é um primo inter pares. Ao fazer tão arrojada escolha para o elenco político que propõe ao país como solução para a nossa crise de valores, Manuela Ferreira Leite só pode querer corrigir a percepção que o eleitorado possa ter de que ela é uma cinzentona sem espírito de humor e que o seu grupo parlamentar vai ser o nacional bocejo.

A líder social-democrata respondeu às marcantes investidas de Pinho com as inimitáveis braçadas de Preto. Arguidos na vida política há muitos, mas como António Preto há só um. Quem o tem, tão fresco e irreverente como na primeira investigação judicial, é Manuela Ferreira Leite e o seu PSD. Karl Marx, na introdução à Crítica da Filosofia do Direito de Hegel, escreve que "a fase final na história de um sistema político é a comédia". Com estas listas do PSD e com a inspiração guionística de António Preto, Ferreira Leite está a escrever o último acto.

5 comentários:

Anónimo disse...

Obrigado por o magnifico blog.
Uma referência para o meu programa de rock "Rock Plebeu"

www.rockplebeu.blogspot.com

cumprimentos,

Marco Moutinho

A. João Soares disse...

Sobre o actor da comédia este artigo do Público acrescenta mais dados Julgamento de António Preto marcado para 27 de Outubro. E assim vamos conhecendo melhor as malhas em que os políticos nos enredam.

Maria Letr@ disse...

E de palhaçada em palhaçada, consentidas e com, ainda por cima, alguns a aplaudir, continuamos a vê-los passar ilesos ...
Beijinho.
Maria Letra

A. João Soares disse...

Amiga Mizita,

É um desprezo absoluto pelos valores éticos.
A líder do partido até poderá ganhar as eleições apesar de incluir na lista um arguido de crime grave.
É estúpido o argumento com que se defende ao dizer que o deputado já deputado, porque anteriormente o líder o candidatou!!!
Isso não lhe retira responsabilidade de candidatar uma pessoa que publicamente carece de credibilidade, que há suspeitas de não ser pessoa séria.
Claro que vai ser absolvido porque é deputado porque é candidato, porque a sua líder o defende, etc. Mas perante o povo não é um cidadão exemplar. Por isso é que nenhum partido terá o meu voto. Nenhum o merece.

Beijos
João

Maria Letr@ disse...

Amigo João,
Sabemos todos que, se eles não apoiarem aqueles que seguem o mesmo princípio que permite o descalabre de escândalos que estamos a verificar, eles acabarão por serem denunciados, perderão os tachos com os quais alimentavam as suas extravagâncias e deixarão de ser conhecidos pelo seu alto cargo. Isto não lhes convém, de maneira nenhuma.
E depois, João Soares, o que mais nos deve preocupar - se me permite e não indo contra NADA do que escreveu - é que não se vê forma de dar a volta a esta situação (senão da pior maneira, que não defendo), porque as pessoas continuam a dormir.
Um grande abraço.
Maria Letra