domingo, 6 de junho de 2010

Carinho, solidão, solidariedade

Um post publicado no Sempre Jovens trouxe-me à memória uma história passada em Londres.

Dois ilustres idosos que eram amigos e participaram em muitas actividades profissionais, culturais e recreativas em conjunto, depois de estarem sem se ver vários meses encontraram-se numa das ruas chiques da capital.

- Bom dia Mr Browm, ainda bem que o vejo para me despedir de si, porque segunda-feira parto para Ballater, a Oeste de Aberdeen, na Escócia.

- Oh Mr. Simpson, vai lá passar umas férias? Desejo-lhe uma boa estada.

- Não, Mr Brown, não são férias, decidi lá passar o resto da vida no sossego do campo.

- Oh Mr. Simpson, não quero acreditar. O Sr. gosta de ópera, de concertos, do melhor teatro, de visitar os bons museus e lá não terá nada disso.

- É certo, Mr Brown, e até os apoios de saúde são incomparavelmente inferiores aos de Londres, mas pensei que na minha idade poderia aqui sentir-me mal e cair na rua e as pessoas passariam ao lado e pensariam, lá está mais um ébrio que não se segura em pé e, apesar dos bons hospitais que há, morreria ali sem qualquer socorro oportuno, sem ouvir uma palavra de compreensão e conforto. Mas em Ballater, pelo contrário, quando isso vier a acontecer, não haverá apoios eficientes de saúde, acabarei por morrer sem apoio médico mas, antes de morrer ouvirei palavras amáveis, do género, pobre Mr Simpson, chegou a sua hora, era boa pessoa e deixa-nos… Ouvir o nome em tal situação é reconfortante, coisa que não aconteceria aqui.

2 comentários:

Luis disse...

Caro João,
Quanta verdade está nas suas palavras...
Um abraço amigo.

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Esta história é um elogio ao espírito de aldeia, onde todos se conhecem e trocam afectos, onde ninguém está inteiramente só. Numa aldeia não acontece o que se vê frequentemente nas notícias, num prédio de andares na cidade, alguém morrer em casa e só se saber passados muitos dias quando os vizinhos sentem o odor da decomposição do corpo. Na aldeia, ou não morre sozinho, ou lhe sentem a falta na manhã seguinte.

A fuga para as grandes cidades tem preços humanos muito elevados, desumanizou as pessoas. Não há espírito de vizinhança.

Um abraço
João
Saúde e Alimentação