quinta-feira, 29 de julho de 2010

Insustentabilidade do sistema político e o líder da JS

Transcrição do texto recebido por e-mail do seu autor, escritor e investigador de história, Manuel Bernardo:

Carta aberta ao Presidente da JS

Alertando para a insustentabilidade do actual sistema político…

Novo líder da JS elege como prioridades desemprego jovem e adopção por casais gay.

Título do “Público” de 18-7-2010

Não perderia tempo a escrever estas linhas se o não considerasse como fazendo parte das elites portuguesas a nível universitário e político. Julgo que não tenha ficado muito honrado por ter sido cabeça da única lista ao cargo partidário de Presidente da Juventude Socialista. É que numa reunião de 700 (?!) delegados tal “cheira” demasiado a unanimismo, tal como era praticado na ex-URSS e ainda existe na actual Coreia de Norte.

Fico demasiado espantado que essa reunião tenha ocorrido sem dar algum reflexo da instabilidade económica, social, ética e moral de que padece a sociedade portuguesa… Pelo menos tal não foi noticiado nos denominados jornais de referência.

Considero que o senhor apresenta uma visão muito redutora da realidade dos problemas actuais de Portugal, mesmo para quem diz situar-se à esquerda da actual direcção do PS. É que, como diz José Manuel Fernandes, ex-director do “Público”, face ao sucedido até agora, apenas nos resta mudar radicalmente de vida e de forma muito mais profunda do que imaginámos.

Não serão com ideias como as acima indicadas como prioritárias que os problemas dos portugueses se resolvem. O do desemprego já se arrasta ao longo de algumas décadas e agravou-se nos últimos tempos. Recordo que, por altura da queda do Muro de Berlim, afirmava o professor universitário e historiador Jorge Borges de Macedo, ser o grande problema do século XXI a ocupação das pessoas, por falta de postos de trabalhos, que os computadores roubaram, o que levará certamente ao redobrar das questões psíquicas e psiquiátricas dos cidadãos… E mesmo que as designadas redes sociais da net possam “momentaneamente” entreter graúdos e miúdos, tal não resolverá o problema da sustentabilidade dos regimes políticos e sociais e nomeadamente, do nosso...

E quanto às adopções por gays, não siga o mau exemplo de José Sócrates quando arranjou a maneira de copiar o sucedido em Espanha, em relação aos ditos casamentos, apenas para entreter o pessoal com um designado caso fracturante, de maneira a que não houvesse a percepção do estado em que Portugal se ia afundando… Lembre-se dos problemas das crianças, eventualmente nessa situação, se sentirem marginalizadas pelos seus colegas de escola e veja o que sucede em certas comunidades gays nos EUA, que se transformam em autênticos guetos para conseguirem manter tão estranha maneira de viver… Antes dos direitos destas minorias acho que estão os direitos das crianças, que o Estado deve promover e defender. À nascença devem naturalmente ter direito a um pai e a uma mãe para ser conseguido um desenvolvimento equilibrado e harmónico da criança. Já não bastava a maneira como a juventude actual encara o casamento de maneira bem egoísta e os casais se separam com base em qualquer futilidade imprevista, não tendo em conta os direitos dos filhos em crescerem no seio de uma família normal, e ainda vêm com estas ideias estapafúrdias, à revelia do mais elementar bom senso.

Vozes clamando no deserto?!

Não tem com certeza ouvido vozes como a de D. Carlos Azevedo, Bispo Auxiliar de Lisboa, que considera dever a Assembleia da República reduzir os deputados para metade dos existentes e que os actuais, como o senhor, deveriam descontar 20% dos vossos vencimentos para evitar a pobreza extrema, que por aí se vai avolumando… Olhe, essa redução de deputados seria uma maneira dos seus amigos extremistas serem reduzidos à sua verdadeira e real dimensão…

Ou como o Professor Campos e Cunha, ex-ministro das Finanças de um governo socialista, que afirma ser lamentável que o desemprego continue a aparecer nas bocas de alguns, à laia de manobra de diversão, quando não se querem discutir outros assuntos. E ele acrescenta:

“ (…) Ora, sendo o desemprego um problema cuja resolução última é a prazo e que tem a ver com o bom funcionamento do sistema económico, e estando este claramente ligado com o bom funcionamento do sistema político, nada mais a propósito do que discutir a eventual revisão constitucional.”

O projecto do PSD poderá ter muitas asneiras ou questões “não atendíveis”. Mas esse será o motivo para não se fazer uma revisão constitucional? Julgo que tudo pode ser negociável, tendo em conta o interesse nacional. E por muito que custe ao Professor Jorge Miranda (meu professor de direito constitucional), o facto de os “pais” da Constituição terem colocado o Tribunal Constitucional a decidir sobre recursos do sistema judicial, é uma das principais razões da morosidade em não saírem decisões definitivas com a devida oportunidade. A legislação seria avaliada constitucionalmente por um órgão deste género e os recursos deviam parar no Supremo Tribunal de Justiça. O senhor não tem ouvido (e lido nos jornais) que muitos investidores estrangeiros não vêm para Portugal devido ao estado lastimoso a que chegou a nossa Justiça? E sem investimentos não há mais emprego… Considero que um jovem da área do Direito poderá compreender esta opinião, que já estava na minha cabeça muito antes de Filipe Menezes a ter apresentado há alguns anos, na proposta de extinção daquele Tribunal Constitucional…

Lembro igualmente as opiniões recentes do Professor Bacelar Gouveia sobre o facto de se terem “esquecido” dos juízes no que concerne aos cortes nas despesas com pessoal e instalações, e sobretudo nos seus vencimentos, que aumentaram substancialmente após o 25 de Abril (tal como os dos professores universitários) em comparação com profissões então idênticas em remunerações, como as dos militares…

Uma história interessante do PREC…

Pela consideração que também me merecem os meus leitores da “net”, não quero perder a ocasião de destacar uma história escrita no “Público” de 9-7-2010, pela jornalista Helena Matos. É que apesar de eu ser um investigador entre o pré e o pós 25 de Abril, desconhecia o conselho dado ao Bispo de Aveiro pelo futuro Papa João Paulo II… Com o título “Os Caixões com Armas”, ela escreve:

“A história é breve e leva-nos ao Portugal de Julho de 1975. O país declarava-se em processo revolucionário e o MFA desvalorizava o resultado das eleições burguesas, contrapondo a dinâmica da luta de classes. A Igreja Católica não tinha muitas ilusões sobre o que se seguiria, mas a habitual passividade da elite católica portuguesa, a par do receio de se ver conotada com o reaccionarismo, ia deixando os responsáveis eclesiásticos numa expectativa cada vez menos tranquila, mas muito tolhida.

“Estava o país nestes transes quando o então bispo de Aveiro, Manuel Trindade, se deslocou a Roma. Aí, num encontro com outros bispos, foi dando conta em tom moderado, quase tímido, que dizem ter sido o seu, do que se passava em Portugal. Fosse por que tanta moderação lhe deu que pensar ou por qualquer outra razão, um dos bispos presentes perguntou ao bispo português se a Portugal já tinham chegado os caixões com armas. Ou seja, se os sectores não comunistas não só já tinham sido acusados de conspirar contra a revolução, como de nessa actividade conspirativa terem perdido o respeito pelos mortos, transportando armas em caixões. O bispo de Aveiro respondeu que sim, que de facto os caixões com armas, ou melhor, o boato acerca deles já chegara a Portugal. Ao que o bispo, que o interrogara lhe disse peremptoriamente: «Vá para a rua, já!».

“O homem que tão aguerrido conselho deu ao bispo de Aveiro chamava-se Karol Wojtyla e sabia por experiência própria que a acusação dos caixões com armas era recorrente em todos os processos de conquista do poder pelos partidos comunistas e que seria isso que ia acontecer em Portugal, caso os democratas, e entre eles os católicos, não fossem para a rua defender as suas posições.

“Independentemente de Karol Wojtyla ter ou não operado milagres que aos olhos dos católicos o podem tornar santo, era certamente um homem de grande intuição política e um orador dotado de invejáveis dotes de persuasão; pois a verdade é que o bispo de Aveiro, uma vez regressado a Portugal, se deixou de reservas e foi mesmo para a rua: a 13 de Julho de 1975 teve lugar a grande “Manifestação dos Cristãos” e desde essa data o bispo de Aveiro e boa parte dos dirigentes católicos não mais saíram da rua até Novembro de 1975. As manifestações de católicos repetiram-se em Coimbra, Lamego, Leiria e Braga, tornando-se evidente que a Igreja não estava com o MFA e muito menos com a revolução” (…)


Como vê caro senhor, naquela altura, não foi apenas Mário Soares e o PS que estiveram na luta contra os desmandos pseudo-revolucionários do PCP e dos seus companheiros de extrema-esquerda. Esta é mais uma razão para eu não compreender o seu posicionamento tão esquerdista…

O transviado Manuel Alegre…

Este cidadão e poeta que o senhor diz ser o seu candidato à Presidência da República, depois de andar transviado durante dez longos anos (1964-74), nos braços do PCP e da extrema-esquerda, também teve um papel importante na desmontagem das tropelias do PCP, em 1974: a favor de Mário Soares e contra Manuel Serra. Mas isso não lhe dá o direito de se candidatar a ser Presidente da República e, sobretudo, Comandante Supremo das Forças Armadas de Portugal.

Os muitos milhares de ex-combatentes e as suas famílias nunca irão suportar que fosse para tal cargo, quem esteve no outro lado da barricada, apoiando, numa guerra e ao longo de tantos anos, os movimentos que a grande maioria da população considerava terroristas e outros, uma pequena minoria apelidava de nacionalistas ou de libertação. Existem acusações concretas a circular na net de combatentes, que terão visto morrer camaradas, devido à sua actuação na Rádio Argel, uma estação de grande potência, onde ele enaltecia o então inimigo e desgastava psicologicamente as nossas tropas. É que não se tratava de uma brincadeira, nem de arruaças oposicionistas, pois ocorriam muitos feridos e mortos, que regressavam em caixões para as suas famílias os enterrar no continente português… Também existem queixas de pessoas que o ouviram regozijar-se nessa rádio com a morte de militares portugueses, como foi o caso de dois pilotos que faleceram em Angola, nos anos sessenta…

Estes são dados que deviam envergonhar quem como o cidadão Manuel Alegre tem a desfaçatez de se candidatar às eleições para a Presidência da República, em Janeiro próximo…

Terminando com mais um tema fracturante…

Além da vergonhosa intenção de vir propor a adopção de crianças pelos gays, o senhor avançou com outra novidade desviante. Transcrevo do mesmo diário:

(…) Num futuro próximo, Pedro Alves quer que seja discutido o projecto que acelera o projecto legal dos cidadãos trangéneros: “Será o desaparecimento de uma barreira burocrática que não faz sentido. Permitirá quase uma lógica simplex à mudança de sexo”, sustentou.

Não dá para acreditar. E eu que ainda nem tinha ouvido falar em tal incrível projecto… Com que então mudar de sexo “à la carte” e de forma expedita!!!

Termino, pondo a jornalista Helena Matos a responder-lhe:

“(…) Quando acabar o presente frenesi do combate à desigualdade, à homofobia e a todas as outras fobias e ismos que nos capturam o tempo e a atenção, o que sobrará? Infelizmente não creio que desta vez vá ser tão fácil como em 1975. As pessoas e os países recuperam rapidamente das convulsões que põem em causa os bens materiais. O mesmo não se pode dizer das medidas de engenharia social que afectam a família. (…)”

“As crianças (…) exibidas no arraialito gay, (…), um dia vão perguntar-nos o que andávamos a fazer neste início do século XXI. Tanto quanto se sabe, estes ajustes de memória causam dores muito superiores aos de qualquer PREC e não costumam sequer dar histórias que gostemos de ouvir e muito menos de contar.”


Cor. Manuel Bernardo
Julho de 2010

Imagem da Net

3 comentários:

Luis disse...

Caro João,
Este texto é muito longo mas igualmente muito importante ter sido transcrito para aqui.Há factos por demais esquecidos que urge relembrar para que o "Silêncio caia na Rua"!!!
Um forte e amigo abraço deste sempre Alerta.

Luis disse...

Caro João,
Queria dizer para que "o Silêncio não caia na Rua"!!!
Um abração amigo

A. João Soares disse...

Caro Luís,

Para um povo que diz «NÃO PENSO MAS EXISTO», este texto tem pouco efeito. Mas talvez, a pouco e pouco, as pessoas comecem a despertar, a pensarem pela própria cabela, a interrogarem-se procurando respostas para as suas dúvidas e acabem por não ser levadas pelas sondagens, às cegas, por qualquer vendedor da banha da cobra.

Um abraço
João