domingo, 25 de julho de 2010

Método socrático

Transcrição de artigo com igual título do professor


JOÃO CÉSAR DAS NEVES
NAOHAALMOCOSGRATIS@FCEE.UCP.PT Destak. 21 | 07 | 2010

Vivemos estranhos tempos políticos. A regra parece ser a desorientação e contradição. O Governo a cada passo corrige decididamente aquilo que fizera dias antes.

A cada momento surge um ministro a contradizer com firmeza o que ele próprio afirmara. As obras públicas são para manter a todo o custo e para adiar indefinidamente, conforme o dia. Com ou sem portagens, conforme a semana.

Os impostos passam de estáveis a crescentes de uma hora para a outra. As reformas decisivas na Saúde, Educação e Justiça já foram tudo e o seu contrário.

Este espectáculo grotesco, que alguns atribuem à crise internacional, parece incomparável, mesmo na triste história da multissecular democracia portuguesa. Tem, no entanto, um paralelo evidente no passado: a actuação do último primeiro-ministro socialista, José Sócrates.

Vale a pena lembrar que em 2005 o PS ganhou a primeira e única maioria absoluta sob a promessa solene de não aumentar impostos. Muitos avisaram então que tal seria impossível dada a situação, mas foram desprezados perante a firmeza do líder.

Logo que chegou ao poder, surpreendido pelo que toda a gente sabia, o Governo descobriu que tinha de subir impostos. Decidiu então faltar à palavra dada, criando uma magna encenação.

A comissão presidida pelo governador do Banco de Portugal respondeu a uma pergunta impossível: qual o défice se Governo nada fizer o resto do ano (a posse fora em Março!). Horrorizado com esse número artificial pode dar o dito por não dito.

O que hoje assistimos é apenas o paroxismo deste método socrático.

Imagem da Internet

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