quarta-feira, 7 de julho de 2010

Promiscuidade público-privado e corrupção

Transcrição seguida de artigo de NOTA:

Parlamento SGPS
Jornal de Notícias. 07-07-2010. Por Paulo Morais.

Na recente cimeira da Transparência Internacional, na Albânia, a representante da Mongólia confidenciava-me que no seu país a maioria dos parlamentares tinha ligações ao mundo dos negócios. E atribuía a este facto a existência de elevados níveis de corrupção. E por cá? Estaremos melhor que os mongóis?

Parece que não. As ligações empresariais dos deputados fazem-se sentir em múltiplos sectores, e principalmente naqueles em que a promiscuidade com o Estado é mais rentável, das obras públicas ao ambiente, das finanças à saúde.

Os deputados detentores de grandes escritórios de advogados são a face mais visível desta realidade. De cada vez que um deputado/advogado debate ou elabora legislação, vacila entre lealdade ao povo que o elege e a fidelidade às empresas que lhe pagam.

Mas esta duplicidade de papéis sente-se em cada sala do Parlamento. Quando reúne a comissão parlamentar de obras públicas, com seis dos seus membros directamente ligados ao meio, mais parece estar reunida uma associação empresarial do sector. Afinal, que interesses ali se defendem? Os deputados/empresários representam o povo junto do sector, ou o sector junto do Estado?

E na saúde? Também se deverá sentir desconfortável o presidente da comissão, Couto dos Santos, administrador da construtora MonteAdriano, quando se discutam obras em hospitais ou centros de saúde.

E por aí fora. O despudor é de tal ordem que até a comissão de combate à corrupção foi presidida por Vera Jardim que, na sua qualidade de presidente do Banco Bilbao Viscaya e duma leasing imobiliária, representa os sectores mais permeáveis à corrupção, a finança e a construção civil; já para não falar do seu vice-presidente, Lobo de Ávila, que pertence aos órgãos sociais das empresas de Miguel Pais do Amaral, com inúmeras ligações ao Estado.

Os exemplos são inúmeros, a promiscuidade entre política e negócios é regra. A Assembleia aviltou-se e já nem parece um parlamento democrático. É mais um escritório de representações.

NOTA: Este tema tem algo de condizente com aquilo que foi focado nos posts Promiscuidade entre política e empresas, O amiguismo alargado e o O amiguismo por outra óptica.

Seria interessante que os mais altos representantes da Nação viessem explicar aos portugueses, de forma clara e não para camuflar e enganar, aquilo que se passa e, no caso de se comprovar o que o articulista diz, fossem anunciadas medidas efectivas para moralizar a vida pública em Portugal, a fim de credibilizar a Política e de dar aos contribuintes motivo para passar a respeitar os eleitos e neles poderem ter confiança.

Imagem da Net.

3 comentários:

Pedro Coimbra disse...

Onde é que isso também acontece??
Ah! Pois, mais a Oriente....
Abraço

Luis disse...

Caro João,
Este artigo merece obrigar os governantes a tomar uma destas duas decisões, a saber:
1- Se não é verdade levar o articulista a tribunal por difamação;
2- Se for verdade demissão do governo, demissão dos deputados e criar-se um governo de Salvação Nacional!
Mas infelizmente como não há VERGONHA ficará tudo em "águas de bacalhau"!!!
Um abraço amigo.

A. João Soares disse...

Caro Luís,
A primeira medida, não seria ignorada pelo Poder, se fosse de utilizar.
Quanto à segunda, nem pensar... Eles não largam o poder a não que uma bomba atómica os reduza a pó. E tal solução exigiria um PR capaz de tomar decisões válidas que vão muito além de inventar TABUS ou de fazer comunicações ao país com choradinhos com algo de carácter pessoal (Açores, escutas, veto/promulgação).

Um abraço
João