domingo, 1 de agosto de 2010

Era assim há 139 anos. E agora?


"Excerto de "As Farpas" de Eça de Queirós, 139 anos depois...

«O país perdeu a inteligência e a consciência moral.
Os costumes estão dissolvidos, as consciências em debandada, os caracteres corrompidos.
A prática da vida tem por única direcção a conveniência.
Não há princípio que não seja desmentido.
Não há instituição que não seja escarnecida.
Ninguém se respeita.
Não há nenhuma solidariedade entre os cidadãos.
Ninguém crê na honestidade dos homens públicos.
Alguns agiotas felizes exploram.
A classe média abate-se progressivamente na imbecilidade e na inércia.
O povo está na miséria.
Os serviços públicos são abandonados a uma rotina dormente.
O Estado é considerado na sua acção fiscal como um ladrão e tratado como um inimigo.
A certeza deste rebaixamento invadiu todas as consciências.
Diz-se por toda a parte: o país está perdido!»

Escrito em 1871, por Eça de Queirós, no primeiro número d'As Farpas.

Recebido por e-mail. Serve para compararmos com a actualidade e meditar sobre a «grandeza» dos portugueses.

Imagem da Net.

4 comentários:

José Lopes disse...

Eu colocava a minha assinatura por baixo, hoje, porque continua a ser actual.
Cumps

Pata Negra disse...

Nos últimos tempos tem sido recordadas muitas destas, do Eça ao Junqueiro e outros. Tudo parece igual, apenas uma pequeníssima diferença: será que ainda existe povo?!
Um abraço do povo

Pedro Coimbra disse...

Vou citar o Vasco Santana - "Há três grandes escritores em língua portuguesa, três enormes escritores - O Eça, o Eça e o Eça!".
Abraço

A. João Soares disse...

Caros amigos Guardião, pata Negra e Pedro Coimbra,

Eça era realmente um escritos com ideias claras e um estilo vigoroso de as expressar. Deixou retratos pormenorizados da vida do seu tempo.
Infelizmente, nada mudou e hoje é doloroso recordá-lo e vermos que está tudo na mesma, com alguns agravamentos.

O trabalho de sapa nas nossas escolas e nas casas paternas, dinamizado por políticos sem dedicação á causa pública, tem produzido os efeitos que vemos. O povo não foi ensinado a analisar o que se passa, a pensar a decidir com racionalidade e, por isso se deixa levar pelo canto de sereias tentadoras e a comprar a banha de cobra só porque o vendedor é bem falante ou tem postura elegante. E os políticos nascem de jovens néscios, com ambições desmedidas de riqueza, organizam-se por meio de cumplicidades e propõem-se em listas obscuras e atraem os votos do povo apático que é engodado pelo nome mais mediático, ou porque «desde o 25 de Abril sempre votei neles», que é um argumento muito usado, mas apenas medianamente justificado na clubite futeboleira.
Até há pessoas que se consideram inteligentes quem usam argumentos de vidente ou de feiticeira e dizem «ele tem muita capacidade e embora neste mandato não tenha podido fazer melhor, no próximo vai ter um desempenho brilhante».

Contra isto pouco se pode fazer. Mas o povo, as pessoas que pensam, não devem esmorecer, devendo lutar para contribuir para os tempos de amanhá sejam melhores do que os de há século e meio.

Abraços
João
Do Mirante