sexta-feira, 22 de abril de 2011

Imponderáveis da partidocracia

Com a ideia de colaborar na informação e na transparência, para facilitar a reflexão que cada eleitor deve efectuar para votar em consciência com base no seu raciocínio, transcreve-se o seguinte artigo a que se seguirá uma NOTA:

Ele era fantástico em campanha, mas foi despedido
Ionline. por Ana Sá Lopes, Publicado em 22 de Abril de 2011

Em 2009, houve grande disputa pelo troféu das Finanças. Agora foi vítima de despedimento sumário.

Quem foi o ministro mais talentoso nos comícios da campanha do PS de Setembro de 2009? Fernando Teixeira dos Santos, um independente da "casa", desejadíssimo para número 1 do Porto e na altura só afastado do lugar cimeiro porque Alberto Martins, então líder parlamentar, ameaçou ficar fora das listas se o lugar de nº 1 do Porto não lhe fosse entregue. Teixeira dos Santos era tão bom, tão bom, nas lides partidárias que foi dos raros a ser cabeça-de-cartaz em dois comícios - no gigantesco do Porto, onde acabou como número 2 da lista, e no comício de Viseu.

E só não foi o melhor orador do Porto porque estava lá Mário Soares.

No palco dos comícios, Teixeira dos Santos estava como peixe na água e parecia que tinha dedicado a vida toda a subir a palanques para mobilizar militantes. Em Viseu, dizia ter chegado a hora de "recordar Zeca Afonso" e gritava "Traz outro amigo também", apelando ao voto no PS. "Há vida para além desta crise! Há futuro para além desta crise!" era entoado a plenos pulmões pelo ministro naqueles dias de Setembro e a terrível ironia foi o seu futuro político ter sido liquidado na sequência da crise.

Como qualquer político, apelava ao imaginário heróico local: em Viseu socorria--se de Viriato, como no Porto da revolução liberal. "Estou em Viseu, terra de Viriato. É em honra de Viriato que nos apresentamos ao eleitorado, respeitando a palavra dada e os compromissos assumidos".

No Porto, a lista de feitos mitológicos era mais longa: no "distrito de gente laboriosa e generosa", Teixeira dos Santos lembrava como o Porto "deu o seu nome ao país, Portucale" entre variados heroísmos. "Nós demos o nosso melhor quando o país se abalançou na expansão para África. Ficámos com as tripas e somos tripeiros com muito orgulho! Vertemos o nosso sangue para resistir às invasões francesas! Estivemos com a revolução liberal e ao lado do combate político pela liberdade e democracia a seguir ao 25 de Abril!".

A Teixeira dos Santos coube o papel de denunciar "a esquerda radical", nomeadamente o seu amor pelas nacionalizações. Foi o grande combatente da proposta do Bloco de Esquerda de acabar com os benefícios fiscais dos PPR. "Este é o ataque fiscal mais forte de que há memória! Não é uma pedrada! É um verdadeiro bloco atirado às famílias e à classe média portuguesa!".

Teixeira dos Santos prometia no comício do Porto que o PS não teria medo de esconder a sua face aos eleitores. "Temos de assegurar ao país um sistema financeiro robusto e estável". Nessa altura, ainda todo o governo, a começar pelo ministro das Finanças, acreditava em fadas. "Ganhámos o respeito internacional. Os resultados estão à vista. O caminho que escolhemos é o caminho certo. Há que prosseguir este caminho!".

Tudo acabou na quarta-feira de cinzas do FMI, quando o ministro enfrentou Sócrates e anunciou sozinho o iminente pedido de resgate.

NOTA: Na política como no moderno consumismo, os utensílios que deixam de ter utilidades são descartados e, por vezes, nem são recicláveis. Há notáveis do PS que lamentam a exclusão de Teixeira dos Santos das listas. Mas o «querido líder» achou que ele chegou ao fim da validade!

Pormenores como este podem denunciar que a democracia está doente. Com efeito, nas eleições, os eleitores terão que escolher de entre listas com nomes que desconhecem e sem nomes que consideram válidos, havendo listas que não merecem a concordância de notáveis dos respectivos partidos. Desta forma, há listas que poderão perder credibilidade e ficar fora das possíveis escolhas dos eleitores esclarecidos e de séria formação moral e, se outras listas não lhes agradarem, resta-lhes a abstenção ou o voto em branco.


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