segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

Estratégia para sair da crise

Transcrição de artigo que explica uma estratégia optimista para ultrapassar as dificuldades geradas por erros governamentais e comportamentos desajustados da população. Oxalá políticos e cidadãos compreendam e passem a ajustar-se às realidades do mundo moderno em evolução.

O espírito de Abril
Por João César das Neves, no Diário de Notícias de 2012-02-06.

O acordo de concertação social assinado no dia 18 é um documento decisivo da nossa história recente. Isto só se entende considerando a essência desta crise.

Muitos tomam a recessão mundial como financeira, acusando dela bancos e agências de rating. Têm razão, mas esquecem que países com crescimento sólido, como Irlanda, Bélgica e Reino Unido, não são incomodados apesar de dívidas maiores que a nossa. O fundo do problema é pois económico e social.

O desenvolvimento que o mundo vive desde a revolução industrial tem tido várias fases. Esta é dominada por dois choques principais, a expansão da China e Índia e a revolução informática. Estes avanços criaram um dos momentos mais maravilhosos da humanidade, com enorme progresso e redução espantosa da pobreza mundial. Como não há almoços grátis, este desenvolvimento tem custos, alargando o fosso de rendimentos no Ocidente, de onde sai a recessão e a dívida.

Os mecanismos são evidentes Os trabalhadores chineses concorrem com o trabalho não especializado na Europa e EUA, enquanto a sociedade da informação elimina empregos de escritório e beneficia efusivamente o talento na gestão, arte, finanças, desporto, computação, etc. Isto espreme os salários baixos, reduz os lugares intermédios e premeia alguns ricos. As dificuldades de crescimento vêm da reestruturação económica imposta pelo mercado global, enquanto o endividamento surge de políticas e expedientes para amaciar a vida dos mais atingidos. Foi o incentivo político à aquisição de casa pelos pobres que criou o subprime nos EUA.

A questão decisiva deste tempo é, portanto, social. Portugal é um caso paradigmático. Na "década perdida", além da estagnação ser disfarçada pela dívida externa que agora nos arruína, íamos caindo numa das maiores desigualdades europeias, como mostram estudos recentes. Mas é preciso ver que esses estudos têm dados anteriores à troika, que está cá só há dez meses. O fosso entre ricos e pobres só pode resultar de quinze anos de políticas socialistas, que diziam defender os trabalhadores, combater a pobreza e construir a sociedade justa. Este aparente paradoxo é compreensível ao notar que as tais políticas bem intencionadas acabavam por usar os impostos de todos (sobretudo pobres) para beneficiar certos grupos, próximos do Estado. Os últimos anos reforçaram o processo, pois a crise começou em 2008, com falências e desemprego, mas funcionários e pensionistas estiveram incólumes três anos, até à chegada da troika.

O terrível choque no Ocidente, como em Portugal, impõe difícil ajustamento para recuperar uma sociedade justa e dinâmica, adaptada ao novo mundo global. Isso exige medidas sérias e equilibradas das elites e governos, para eliminar privilégios, combater a corrupção, apoiar os pobres, flexibilizar a economia. Mas exige também da sociedade serenidade e solidariedade, suportando os inevitáveis sacrifícios sem perder o rumo.

Percebe-se perfeitamente a irritação das populações pela austeridade e perda de direitos exigida na flexibilização. Revoltas, greves e subida dos radicalismos, bom como sonhos de revoluções e sociedade ideal, são compreensíveis. Robespierre, Marx e Lenine viveram tempos destes e hoje a Grécia envereda pelo mesmo rumo violento. Mas a reacção brutal trouxe sempre o desastre.

Existem alternativas, como a serena "revolução dos cravos". Comparada com casos paralelos, nacionais e estrangeiros, o 25 de Abril destaca-se pela sensatez. Em particular, na confusão revolucionária de 1974-75 os salários reais subiram 10% acumulados, estrangulando a economia. Em seguida aconteceu algo único na história: um país democrático, com sindicatos livres, teve o patriotismo de suportar uma queda acumulada de 12% nos salários reais de 1976-79, recuperando o equilíbrio.

O choque social destes anos será terrível. O nosso futuro depende de Portugal cair na revolta, como Marx sugeria e a Grécia mostra, ou enfrentar as dificuldades com força e serenidade. O acordo de dia 18 prova que ainda está vivo o espírito de Abril.

Imagem de arquivo

3 comentários:

Zé Povinho disse...

Esse beato aproveita mais uma vez para mostrar o ódio visceral que nutre pelos funcionários públicos, e manipula a história para apelar à mansidão de um povo que é sacrificado pelos erros de quem muito ganhou com as políticas erradas dos últimos anos.
Dele tratarei no meu espaço se tiver tempo.
Abraço do Zé

Anónimo disse...

Esse gajo é quase tão burro como o Mário Soares...

Abraço

A. João Soares disse...

É bom saber as opiniões de todos os quadrantes, para podermos formar e defender a nossa opinião com mais e melhores argumentos. Quem só vê obstinadamente uma face de um problema nunca o compreenderá na sua totalidade e não terá capacidade para encontrar uma solução totalmente eficaz.

Só assim seremos capazes ede encarar todas as soluções possíveis ao preparara decisão, como consta na alíea 3) do método Pensar antes de decidir

Abraços
João